Cidades

Onda Roxa, Onda Trouxa

(*) Natália Littig

Com seus hospitais ainda em colapso, o Vale do Aço permanece em Onda Roxa até 25 de abril. Talvez “Onda Trouxa” como vi um amigo criticando em redes sociais recentemente. Nosso comércio segue atendendo presencialmente, desrespeitando o protocolo. Sem uma fiscalização eficiente do poder público municipal no cumprimento das determinações de fechamento, continuaremos sem perspectiva de redução de casos de contaminação pela Covid 19, provocando com isso o aumento assustador de mortes pela pandemia na nossa região.

Quando vemos os números da pandemia no Vale do Aço ficamos certos de que vivemos a pior das piores situações de todo o período pandêmico, médias de casos altíssimas (652 casos novos por dia) e as taxas de letalidade de arrepiar os cabelos (2,32%).  Assusta mais ainda quando avaliamos somente os dados de casos de síndrome respiratória, ou seja, casos graves, a coisa é de entristecer e chorar. Dentre os casos que requerem hospitalização, pasmem!, 62,4% vão a óbito no Vale do Aço. Quando olhamos os números dos nossos municípios mais populosos, os números continuam preocupantes entre os residentes em Ipatinga, quando 65,6% dos casos graves vão a óbito, em Coronel Fabriciano são 66,5% e em Timóteo 65,7%.  Isso quer dizer que mais da metade das pessoas que estão com sintomas respiratórios graves estão morrendo na nossa região.

Há quem pressione os governos, cobrando vacinação, o que é adequado, mas também devemos exigir medidas efetivas de distanciamento social e a fiscalização dessas medidas por parte do poder público dos respectivos municípios da RMVA. Afinal, o governo Bolsonaro, não comprou vacinas suficientes para nos vacinar e a entrega do insumo para produção das mesmas, chega em gotas homeopáticas, fazendo com  que essa dose de esperança se torne um sonho cada vez mais distante de muitos. A compra independente por Estados e Municípios é uma possibilidade que tem se arrastado tão lentamente quanto a disposição da ANVISA em liberar o uso de novas vacinas no Brasil.

Mas também há que se pensar nas ações das nossas prefeituras no Vale do Aço.  Quando se fala na situação da pandemia na região,  a principal ação defendida pelos gestores municipais, é a abertura de novos leitos para solucionar o colapso assistencial.  Anunciam a abertura de novos leitos como se fosse uma solução mágica, tiram fotos de destaque com novos equipamentos adquiridos, fazem eventos inaugurais com a presença de toda imprensa regional para mostrar os leitos equipados e ainda vazios, batem no peito em aparecimentos bombásticos nas Redes Sociais, para falar que seus hospitais estão preparados para atender a população em casos de contaminação pela Covid 19. Mas leito não é só equipamento, demanda a necessidade de profissionais qualificados e treinados para manuseio desses equipamentos e para prestar assistência de qualidade aos contaminados pela pandemia. E num panorama de escassez de recursos humanos na saúde, temos que nos perguntar: quem vai trabalhar nesses leitos de alta complexidade, sendo que  não se encontra com facilidade no mercado, profissionais capacitados e experientes? A falta de experiência e a imperícia, também podem causar mortes, e complicar ainda mais a nossa situação. Isso sem mencionar os profissionais de saúde que já estão na luta contra esse vírus nesse longo período da pandemia no Brasil. Estão exaustos, exauridos em suas capacidades de seguir lutando,  continuam bravamente sendo esmagados pelo vírus, e pela incapacidade de nossos governantes de colocar em prática as medidas sanitárias recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), para conter o avanço do vírus.

Portanto, temos como principal tarefa neste nefasto período, continuar defendendo efetivamente o Isolamento Social, pois com o aparecimento de novas cepas, a redução de faixa etária na contaminação pelo vírus, o aumento vertiginoso de casos graves, a falta de leitos, a escassez de vacinas, o negacionismo bolsonarista, e gestores municipais com pouca disposição humanitária em implementar medidas sanitárias efetivas, volto a frisar: o isolamento social, é o que nos resta.

(*) Natália Littig é enfermeira epidemiologista. Trabalhadora do SUS.

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