Opinião

O que eu penso da Folha

(*) Fernando Benedito Jr.

Até outro dia o ex-guerrilheiro urbano Cesare Battisti, ex-integrante do grupo Proletários Armados pelo Comunismo, que atuou na Itália até os anos 80 era execrado pela mídia brasileira. Exilado no Brasil, teve o apoio do ex-presidente Lula e do ex-ministro da Justiça Tarso Genro que evitaram sua extradição, ludibriados pelo argumento de que ele era inocente dos crimes que lhe imputavam na Itália.

De uns três dias para cá, Battisti não sai das manchetes da “Folha de São Paulo”, ora criticando Lula, ora criticando Evo Morales, Dilma ou Tarso Genro. Ingrato, cospe no prato que comeu. É questionável a razão pela qual a Folha traz à baila este tema a esta altura dos fatos. Preso na Bolívia, Battisti foi extraditado para a Itália, onde cumpre pena. Lula fez a “mea culpa” em cadeia nacional na Itália e disse que não extraditou Battisti porque acreditou em sua inocência. Uma vez que ele próprio, para ter acesso aos benefícios da justiça italiana, assumiu os crimes, não havia mais porque protegê-lo ou defendê-lo. A opinião pública italiana aceitou os argumentos de Lula. A “Folha”, pelo jeito, não. E tome Cesare Battisti, uma pauta bem fora da curva, diga-se.

Durante os picos de contaminação da pandemia de covid-19, a “Folha” sempre defendeu a vacina, o uso de máscara e foi contra os medicamentos sem eficácia comprovada, como a cloroquina. Até que um dia um conglomerado farmacêutico ou financiado por ele pagou uma imensa nota pública em defesa da cloroquina e a “Folha” se dobrou. Publicou a defesa da cloroquina em garrafais e depois o ombusdman pediu desculpas.

Publicou ontem um “O que a Folha Pensa”, defendendo “avanços no governo Bolsonaro”. Particularmente não conheço nenhum, já retrocessos é possível enumerar vários. Também pouco me importo com o que “o que a Folha pensa”, depois do episódio da defesa da cloroquina.

Agora, a “Folha” anda tendo uns pensamentos estranhos sobre Cesare Battisti e sobre o governo Bolsonaro. É um jornal que já foi favorável aos golpes no passado e no presente, tem um pé no liberalismo quatrocentão paulistano e outro na Faria Lima, além de uma incrível e camaleônica capacidade de se camuflar na pluralidade e na diversidade.

Todo cuidado é pouco. E por falar nisso, a “Globolixo” nunca recebeu tanta publicidade do governo Bolsonaro como agora. E os bolsominions engolindo caladinhos. Bacana, né.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP.

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