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O duelo filosófico de Olavo e dos militares

(*) Fernando Benedito Jr.

Nunca antes do governo Bolsonaro havia falar deste tal de Olavo de Carvalho, auto-proclamado filósofo, já que, dizem, sua ligação teórica mais profunda é com a astrologia, embora também nunca o tenha visto falar de Nostradamus que, em tese, seria seu melhor guru. O fato é que num governo repleto de militares, no primeiro e segundo escalão, o senhor Olavo de Carvalho, principal mentor e guru dos Bolsonaros resolve atacar exatamente os militares, a outra banda aliada do governo, com quem vive às turras. Sinceramente, é uma coisa difícil de entender. E mais difícil ainda é compreender porque o presidente nunca desautoriza o “filósofo”, como se tivesse medo dele, e deixa sempre os militares em maus lençóis. E pior: os militares toleram e seguem no governo que os desprestigia. Estes, sim, engolem sapo. Em linguagem chula, chama os generais de “bosta”, “merda” e outros adjetivos pouco usuais que, na minha época, seriam rigorosamente punidos com cadeia e porrada por desacato à autoridade. Claro, não podem fazer nada com Olavo – chamado pelo general Santos Cruz da Secretaria de Governo de “desocupado esquizofrênico” -, porque além de amigo do rei, vive nos EUA, portanto, fora do alcance do longo braço da lei e da ordem.

E tudo por causa de uma declaração intempestiva do general sobre regulamentação da mídia, uma pauta que sequer está na ordem do dia e nem deverá estar.

Não deixa de ser curioso. Além dos desvarios de um governo de malucos, que dispensa a oposição para atrapalhar seus planos, porque, diariamente o próprio presidente e seus asseclas tratam de arrumar alguma confusão ou bobagem para fazer e falar, ainda convive-se com tais “divergências ideológicas” entre olavistas e militaristas que, para falar a verdade, em nenhum momento fez qualquer debate digno da audiência que a mídia lhe dispensa. Parece briga de criança: “Quem for mais homem, cospe aqui!”

Num governo sério, a disputa entre olavistas e militaristas seria sobre o que privatizar primeiro, como entregar de vez as escolas públicas e universidades à iniciativa privada, qual o melhor momento para declarar guerra à Venezuela, como articular a direita internacional para dar sustentação ao governo e seu projeto de “revolução conservadora” (outra coisa curiosa, já que as revoluções vieram para romper paradigmas e não manter tradições), como gerar emprego priorizando o capital, o agronegócio, a banca internacional e não a geração de renda e o poder de compra do cidadão. Essas coisas, tolas.

Mas, não. O debate é o seguinte:

– Há coisas que nunca esperei ver, mas estou vendo. A pior delas foi altos oficiais militares, acossados por informações minhas que não conseguem contestar, irem buscar proteção escondendo-se atrás de um doente preso a uma cadeira de rodas –, disparou Olavo numa referência desrespeitosa ao general Vilas Boas, que sofre de esclerose lateral amiotrófica, porque Santos Cruz foi reclamar com ele.

Para apaziguar, Bolsonaro manda essa: “Olavo, sozinho rapidamente tornou-se um ícone. Seu trabalho contra a ideologia insana que matou milhões no mundo e retirou a liberdade de outras centenas de milhões é reconhecida por mim. Sua obra em muito contribuiu para que eu chegasse ao governo”. Estou perdendo um clássico e nem sabia.

E mais: “Olavo é dono do seu nariz como eu sou do meu e você é do seu. Eu recebo críticas muito graves e não reclamo. O pessoal fala muito em engolir sapo. Eu engulo sapo pela fosseta lacrimal e estou quieto aqui”, seguiu o presidente em defesa de seu guru, soltando mais uma pérola do pensamento bolsonariano. Só não deu conta de engolir o sapo barbudo pela fosseta reptiliana.

É assim, neste “debate acadêmico”, seguido pelo corte de verbas de universidades federais e escolas fundamentais, paralisação de projetos de pesquisa e ciência, entrega de Alcântara, privatização da Embraer e do petróleo, entre outros planos dignos de Pink e o Cérebro que vamos seguindo.

E viva a Pátria acima de tudo e Deus acima de todos!

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.

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