Cidades

Nível do Rio Doce recua e famílias voltam para casa

Na volta para casa, as famílias tiveram que retirar toda a sujeira deixada pelas águas da chuva

CARATINGA – As famílias que ficaram desabrigadas na Ilha do Rio Doce puderam finalmente voltar para suas residências na manhã de ontem (12) depois de passarem oito dias acampadas em barracas.
A reportagem foi até a Ilha e percorreu algumas casas da comunidade: a situação encontrada era calamitosa. Sem água potável, as famílias tiveram que trabalhar com vassouras e enxadas para tentar amenizar a sujeira. Os moradores voltaram para casa sem o aval da Defesa Civil de Caratinga.
Durante todo o dia, os moradores tiveram que retirar a lama fedorenta que ficou nos cômodos inundados. Móveis, roupas e mantimentos perdidos eram colocados para o lado de fora das residências para serem descartados.
A dona-de-casa Marli Moura de Souza perdeu colchão, sofá, cômoda e as camas em que dormiam seus quatro filhos. Nas paredes da casa dela ainda era possível ver a marca da água do rio.
Para não ter tanto trabalho, a mulher mandou para a casa de parentes os dois filhos menores. Os maiores ficaram com ela para ajudar na limpeza. As poucas peças de roupas limpa que ela tinha para vestir as crianças foram doadas por voluntários.
“Não tenho condições de dormir com os meus filhos aqui com essa sujeira. A água da cisterna está suja, então nem posso usá-la para beber. O pouco que tenho para beber consegui com um vizinho. A situação ainda continua difícil para todo mundo daqui”, constatou.
Para facilitar a limpeza das casas, a população pediu que fossem enviados até a comunidade ribeirinha caminhões pipa, pelo menos até que o abastecimento de água seja normalizado.
“Tivemos que sair do acampamento e voltar para casa. A Prefeitura retirou o banheiro químico e a ajuda com a alimentação. Então não tivemos escolha, ou era voltar ou ficar ao relento. Não sei se minha geladeira e o fogão vão funcionar. Mas nem adianta testar, pois preciso de água para limpar tudo primeiro”, falou.

SOLIDARIEDADE
A diarista Elizete da Silva também teve a casa tomada pela água do rio. Diferente de Marli, ela preferiu ir para casa de parentes em Ipatinga do que ficar acampada. Ela retornou à Ilha do Rio Doce também na manhã de ontem.
“Fiquei com o meu marido na casa da minha irmã no bairro Canaã. Passei esse tempo todo sem vir aqui. Na quarta-feira passada, quando o nível da água subiu, não tive tempo de salvar nada. Minha família teve que correr para a laje e fomos resgatados pelo Corpo de Bombeiros. Saí de casa com algumas peças de roupa. A altura da água no meu barraco passou dos dois metros. Agora vou ter que refazer a minha vida”, contou.
Mesmo numa situação precária, Elizete ajudava Marli a remover a lama de dentro de casa. As duas mulheres dividiram os itens de uma cesta básica que Marli ganhou de uma arrecadação feita por funcionários da Usiminas para as famílias da comunidade.
“Estou ajudando cada um da maneira que posso. Como fiquei na casa de parentes, não ganhei nada, nem cesta e nem roupas. Ela precisava de ajuda para limpar a lama, então ofereci”, justificou.


O pouco de mantimento que Marli Moura (E) ganhou foi dividido
voluntariamente com sua amiga Elizete da Silva (D)

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