Policia

MP vai pedir anulação do julgamento do cabo Silva

IPATINGA – O Ministério Público (MP) vai pedir a anulação do julgamento do policial militar Wagner Anacleto Silva, o “Foguinho”. Na análise da Promotoria de Controle da Atividade Externa Policial, o julgamento se deu de forma contrária às provas dos autos. Após 15 horas de julgamento, o Cabo Silva foi inocentado das acusações de homicídio e tentativas. Quatro pessoas do Conselho de Sentença (formado por sete homens) votaram a favor da absolvição do réu.
“Foguinho” era acusado de matar o adolescente Tayrony Vildes Gomes Fernandes, 17 anos, e ainda atirar contra outros quatro jovens, na madrugada do dia 11 de abril.

De acordo com as investigações, naquela noite o policial foi à rua Begônia, no bairro Esperança, de carro, para deixar uma amiga, e teria se incomodado com alguns jovens que estavam no local. Instantes depois ele teria retornado de moto e atirou contra as vítimas. Tayrony foi atingido no fêmur e outros dois rapazes também foram baleados, mas conseguiram escapar. Ainda de acordo com testemunhas ouvidas na delegacia e em juízo, Wagner se aproximou de Tayrony, que estava caído, e disse: “Não vai morrer não, desgraça? Não vai morrer não, safado?” Depois dos dizeres, o Cabo efetuou dois tiros fatais à queima-roupa contra Tayrony.

O JÚRI
O julgamento começou por volta de 9h e foi presidido pelo juiz da 1ª Vara Criminal. O réu foi defendido pelo conceituado advogado criminalista Jayme Queiroz Resende, que já presidiu mais de 600 júris. Outros dois auxiliares também ajudaram na defesa.
A acusação foi representada pelo Promotor de Justiça Hélio Pedro Soares, da comarca de Teófilo Otoni. O promotor é o mesmo que atuou na acusação do julgamento do cabo Victor Emmanuel Miranda de Andrade, em abril de 2012. Naquela ocasião, o PM foi absolvido da acusação de um homicídio e uma dupla tentativa de homicídio.

APOIO MORAL

Há muito tempo não se via um Tribunal do Júri tão lotado como o de quarta. Estavam presentes os poucos parentes de Tayrony: mãe, irmão (bebê) e o padrasto, além das vítimas sobreviventes do atentado. A outra parte da plateia era composta por um número reduzido de estudantes de direito.
O que mais chamou atenção foi o grande número de policiais militares fardados e do sistema velado da PM. Todos na expectativa de ver o colega ser absolvido. Após a leitura do veredicto, os militares comemoraram com uma salva de palmas a absolvição do Cabo Silva.

PARCIALIDAD
E
Durante o júri, a defesa do réu e promotoria dispensaram as testemunhas de acusação. Houve revolta por parte das vítimas que sobreviveram ao atentado. A reportagem do DIÁRIO POPULAR chegou a conversar com uma delas, que disse não entender por que não pôde dar o depoimento. “Eu queria ter falado. Querem beneficiar o policial”, disse a vítima.

Logo após a dispensa, foram ouvidas as testemunhas de defesa, que também são militares. As oitivas foram demoradas e duraram o dia inteiro. A tentativa da defesa com isso era provar que o réu não estava no local do crime e que era impossível ele pilotar uma moto e atirar ao mesmo tempo.

TRÁFICO
Os debates entre acusação e Ministério Público começaram por volta de 19h. A defesa insistiu na tese de negativa de autoria e que o policial estava sofrendo perseguição por parte das vítimas. O PM faz parte do Grupo de Intervenção Rápida Ostensiva (GIRO) e tem como costume patrulhar a região do crime.
O próprio réu, quando interrogado, disse que estava sendo acusado porque os jovens foram abordados por ele várias vezes e que vez ou outra estava na localidade de forma velada para coibir o tráfico de drogas no local, conhecido pela PM como um ponto estratégico para os usuários.

Outra estratégia usada pela defesa foi mencionar os 25 elogios que o PM teve durante sua carreira como militar. Por fim, os defensores apelaram por desconstruir o passado de Tayrony (já morto e sem chance de defesa) e das demais vítimas. Todos eles possuem envolvimento com tráfico de drogas segundo a própria investigação da polícia. Revoltada, uma das vítimas, que sobreviveu ao atentado se manifestou e acabou sendo retirada do tribunal.

OUTRA ARMA
Jayme Rezende ainda apontou falhas nas provas colhidas pela Polícia Civil, como a arma apreendida e o projétil encontrado no corpo da vítima, que segundo ele, são diferentes. Para o defensor, a prova só seria contundente se o réu tivesse usado a mesma arma que usa em serviço para cometer os crimes. Ele desconsiderou a possibilidade de o Cabo Silva ter utilizado outro revólver para praticar os crimes.

O Ministério Público foi categórico em dizer que as provas anexadas aos autos são contundentes para afirmar que o Cabo queria matar todas as vítimas. “As perícias e captação de imagens demonstram a veracidade dos fatos. Não há provas contrárias trazidas aos autos, no sentido da autoria”, afirmou o promotor de justiça.
O Cabo Silva, que antes estava recolhido no 14º Batalhão de Polícia Militar, ganhou a liberdade assim que foi lida a sentença.

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