Policia

Morte de médico fica impune

A mãe de Ícaro, Wilza Maria Silva, e o tio Fernando César Lemos Morais lamentaram a omissão do sistema de segurança           (Crédito: Gizelle Ferreira)

IPATINGA – Os três menores suspeitos da morte do médico Ícaro Ferginando Marcelino de Paula, 25 anos, assassinado a tiros em um latrocínio em setembro do ano passado, foram liberados pela Justiça de Caratinga. Eles estavam acautelados provisoriamente aguardando por uma vaga em algum Centro de Internação do Estado.
A confirmação foi feita à reportagem pelo juiz da Vara da Infância e Juventude de Caratinga, Walter Zwicker Esbaille Junior. O magistrado explicou que os menores ficaram apreendidos por 45 dias (prazo estipulado por lei) e tiveram que ser liberados, já que o Estado não se manifestou sobre a existência de vagas para que eles pudessem cumprir as medidas socioeducativas. O juiz garantiu que o pedido foi feito à Secretaria de Estado de Defesa Social.

A família do médico ficou consternada com a notícia. Ontem pela manhã a mãe de Ícaro, Wilza Maria Silva, 45 anos e o tio dele Fernando César Lemos Morais, 48 anos, receberam a reportagem na casa deles, no bairro Iguaçu, e descreveram em uma única palavra todo o desfecho da história: impunidade.
Wilza não conseguiu conter as lágrimas, que eram um misto de revolta, tristeza e incerteza. Para ela, quando os menores foram apreendidos e um deles acabou confessando em detalhes a execução do médico, parte de um ciclo havia sido fechada. “A esperança que a gente tinha era que pelo menos os menores pudessem pagar pelo que fizeram”, disse.

IMPUNIDADE
A mãe de Ícaro disse que chegou a ouvir comentários que poucos dias antes do natal, um dos adolescentes envolvidos já estaria trabalhando em uma loja em Coronel Fabriciano e se espantou novamente quando foi informada que todos estavam em liberdade, inclusive o menor que confessou ter atirado. “Os próprios menores podem fazer o que quiserem sem limite nenhum porque eles têm certeza da impunidade. Quem perde? Só a gente, e sem esperança de ver a justiça dos homens sendo feita verdadeiramente”, lamentou.

Poucas vezes a mãe de Ícaro foi à imprensa falar sobre o assassinato do filho. Desde o ocorrido, ela sempre se manteve ponderada e discreta, colaborando sempre com as investigações da Polícia Civil de Caratinga. No entanto, ontem, durante a entrevista, ela se mostrou muito indignada com o desfecho da história e disse não ter mais esperança que se faça justiça pela morte de seu filho. “Minha esperança é somente em Deus. Eu gostaria muito de ter expectativa de que algo fosse feito, mas, entre querer e acontecer tem uma distância muito grande”, desabafa.

FRUSTRAÇÃO
O tio de Ícaro, Fernando César, foi quem desde o princípio esteve à frente da família para prestar qualquer tipo de informação à polícia. Segundo contou, ele acompanhou de perto todo desdobramento da história e o empenho da Polícia Civil no caso. Fernando reconhece o trabalho da PC e sente uma frustração do que chama de final injusto. “A gente não vai ter o Ícaro de volta, mas a única expectativa nossa era que tivéssemos a contrapartida do sistema de defesa social. As polícias fizeram a parte delas. Todos trabalharam exaustivamente, só que não houve uma sequência. A gente fica frustrado com esse sistema em que vivemos. O Estado era obrigado a zelar por isso e não o faz”, critica.

DÚVIDA E ESPERANÇA
Além dos menores, outros dois são apontados por envolvimento direto no crime. Trata-se de José Cândido Pereira, conhecido como “Zezé Muleta”, morador de Coronel Fabriciano, e Everaldo Vieira Damasceno, de Ipaba, que são considerados foragidos da Justiça. Para o tio de Ícaro, a dúvida de quem realmente teria sido o autor dos tiros é a esperança que resta para que haja uma reviravolta no caso. Apesar de um dos menores ter confessado como matou o médico, a família tem dúvida sobre quem realmente tenha apertado o gatilho da arma no dia do crime. “A gente tem que torcer para que quando esses maiores forem presos eles deem uma brecha para fazer uma nova confrontação, para ter a certeza de que o menor não estava querendo apenas se promover no mundo da criminalidade ao confessar o assassinato. O fato de ter uma confissão assinada não prova que foi ele (menor). Essa é a dúvida nossa e a esperança que um maior tenha dado os tiros e ele vá para a cadeia”, finaliza o tio de Ícaro.

SEDS
A assessoria de comunicação da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), informou que não existe nenhum pedido feito pelo juiz da Comarca de Caratinga solicitando a internação dos menores e que nem mesmo o nome dos adolescentes constam em alguma lista de espera. Ainda conforme o órgão, não foi encontrado nenhum documento que comprovasse o pedido formal feito pelo magistrado.

O CASO
Ícaro foi assassinado no dia 16 de setembro de 2012, depois que saiu de uma festa em uma casa no Residencial Porto Seguro, em companhia da namorada. O casal foi abordado no carro da vítima e levado ao trevo de acesso à Estrada de Revés do Belém, onde ocorreu a morte de Ícaro.

Dois meses depois do crime, três menores foram apreendidos acusados de envolvimento no caso. Um adolescente de 17 anos foi apreendido e confessou ter atirado no médico. Friamente, o jovem ainda culpou Ícaro pelo final trágico. “A culpa foi dele (médico) que reagiu, ficou resmungando e depois pulou na “peça” (arma). Eu não queria fazer aquilo, não. A intenção era só pegar o carro e deixar os dois amarrados em algum lugar”, detalhou. O menor confesso completa a maioridade dentro de dois meses.


Ícaro Ferginando foi assassinado em
setembro do ano passado

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