Policia

Mandante do assassinato da esposa é condenado a 27 anos de prisão

O júri teve início pela manhã e foi presidido pela juíza Ludmila Lins Grilo      (Fotos: André Almeida)

IPATINGA – Foi condenado a 27 anos de prisão o metalúrgico Adelino Lane dos Santos, que em outubro do ano passado encomendou a morte da esposa, Joana Aparecida da Silva. O crime foi praticado por dois menores, que invadiram a residência do casal durante a madrugada e assassinaram a mulher com uma facada no pescoço. Adelino foi considerado culpado pelos crimes de homicídio qualificado e corrupção de menores e irá responder inicialmente em regime fechado sem o direito de recorrer em liberdade.

O júri teve início na manhã desta quarta-feira (10), presidido pela juíza Ludmila Lins Grilo, e contou com a participação de familiares da vítima e também do acusado. As testemunhas foram liberadas em virtude da amplitude de provas contra Adelino, que já havia confessado sua participação no crime.

TRAMA
A morte de Joana foi encomendada por Adelino em meados de setembro, quando o mandante procurou um menor, identificado apenas como A., e pediu que ele fosse até a sua casa e simulasse um assalto que culminaria na morte de Joana. O adolescente ficou encarregado de arregimentar outro menor para auxiliar no suposto latrocínio. Adelino prometeu uma quantia de R$ 10 mil reais para que o crime fosse executado.

Na madrugada do dia 5 de outubro do ano passado, os dois menores invadiram a residência e renderam Joana e o filho do casal, um adolescente de 14 anos, que dormia junto com a mãe. Os bandidos amordaçaram e agrediram as vítimas, pedindo o dinheiro que estava na casa, informação que Adelino havia repassado aos adolescentes anteriormente. A mulher entregou o dinheiro estava debaixo do colchão, que foi rasgado, e a quantia, roubada.

FRIEZA

Após pegar o dinheiro, um dos menores localizou a chave da motocicleta de Adelino e foi até a garagem onde ela estava guardada, retirando-a para a rua. Em seguida, retornou ao quarto onde estavam as vítimas e ordenou que o outro jovem terminasse o “serviço”. O adolescente atendeu ao pedido e esfaqueou Joana no pescoço, indo embora em seguida.

O filho, que presenciou toda a cena, conseguiu se desvencilhar das amarras e tentou socorrer a mãe, pedindo ajuda da irmã mais nova, uma menina de nove anos, que tentou estancar o sangue do pescoço da mãe.
O SAMU foi acionado, mas encontrou a mulher já sem vida. No momento da ocorrência, Adelino se encontrava no trabalho, o que foi apontado pela acusação como tentativa de forjar um álibi.

CONTRADIÇÕES
Adelino prestou quatro depoimentos, três à polícia e um à justiça, sendo que entrou em contradição em todos eles. Na primeira vez em que foi ouvido, no dia seguinte ao crime, negou qualquer participação. Após a família de Joana apontar que Adelino teria motivos para matar a esposa, ele passou a ser investigado e, em segundo depoimento, confessou ter encomendado a morte da esposa mediante o pagamento de R$ 10 mil.

Já no terceiro depoimento, disse que os adolescentes foram contratados apenas para dar um susto na família. Adelino disse que pediu aos adolescentes que simulassem um assalto para que a mulher e os filhos vissem que dependiam dele como homem da casa.

O último depoimento do acusado foi marcado pela declaração de que a esposa havia ameaçado pedir o divórcio e deixar a cidade de Ipatinga. Ele informou à Justiça que não conseguiria viver sem os filhos.

ACUSAÇÃO

A acusação do júri ficou a cargo do promotor Bruno César Giardini, do Ministério Público de Ipatinga, e tentou convencer os jurados a condenarem Adelino por homicídio com quatro qualificadores: motivo torpe, com promessa de recompensa, e crueldade, por meio que dificultou a defesa da vítima.

A promotoria contestou a afirmação de Adelino de que ele teria pedido que os adolescentes apenas dessem um susto na família. Para isso, usou dos primeiros depoimentos prestados por Adelino, dos boletins de ocorrência lavrados à época e também cópias de reportagens publicadas sobre o caso publicadas por jornais da região, entre eles o DIÁRIO POPULAR.

SEGURO DE VIDA
A acusação também apresentou indícios de que Adelino teria motivos contundentes para matar a esposa. Um deles seria um seguro de vida que o beneficiaria em caso de morte da esposa. A herança dos bens da família, entre eles a residência que estava em nome de Joana, também foi apresentada como motivação. O réu confirmou que mantinha um caso extraconjugal e que a esposa sabia do romance. A acusação, porém, apresentou durante a audiência provas de que o acusado tinha um outro caso amoroso e que esta terceira mulher teria recebido de presente um apartamento do amante. A promotoria apresentou indícios que comprovavam que Adelino vinha sustentando, nos últimos meses, três famílias.

O caráter cruel do crime também foi levantado pela acusação ao relembrar as circunstâncias em que Joana foi morta, quando os dois filhos do casal assistiram a morte da mãe. Para o MP, isso contrasta com o último depoimento de Adelino, uma vez que o fato colocou em risco à vida dos filhos e causou traumas irreparáveis para eles.

DEFESA

Adelino foi defendido no julgamento pelos advogados José Aílton de Fátima e Eliseu Borges Brasil, que afirmaram, desde o início, que não iriam pedir a absolvição total do cliente. Contudo, tentaram derrubar as acusações do MP responsabilizando os adolescentes pelo crime. O fato dos menores terem utilizado uma faca da própria casa para assassinarem a mulher foi apresentada como uma prova de que Adelino não encomendou a morte da esposa e sim apenas o “susto”. “Não foi qualificado porque os menores não receberam uma arma de Adelino. Eles não foram armados para a residência em virtude do pedido que Adelino fez”, disse o advogado José Aílton. “A decisão de matar foi dos próprios adolescentes”, ressaltou o outro advogado.

Os defensores pediram a desqualificação do homicídio, bem como a absolvição pelo crime de corrupção de menores, porque segundo eles, os adolescentes já tinham diversas passagens pela polícia antes de participarem do suposto latrocínio. “Não é possível corromper quem já está corrompido”, defenderam de forma comum.

COFUSÃO MENTAL
A defesa também alegou que Adelino sofreu de confusão mental em seus depoimentos, por isso apresentou diversas versões para o fato. Após apresentarem seus argumentos, os advogados pediram aos jurados que avaliassem a situação para que pudesse ser concedida a pena mínima para o mandante.

Após as explanações de defesa e acusação e das réplicas e tréplicas, o júri, composto por quatro homens e três mulheres, se reuniu para votar pela culpabilidade ou não de Adelino. Os jurados aceitaram a tese do MP de que o crime foi qualificado e que o mandante corrompeu menores de idade ao aliciá-los para o assassinato.

A juíza Ludmila Lins Grilo, da 1ª Vara Criminal Vara Criminal, então sentenciou Adeliano a cumprir 27 anos de prisão. Os advogados afirmaram que irão recorrer da pena, o que vai acontecer com o réu preso, já que a magistrada determinou que o condenado não poderá aguardar o recurso em liberdade.

O Ministério Público ficou satisfeito com a pena, assim como a família de Joana, que aplaudiu a sentença recebida pelo mandante do crime. Uma das irmãs da vítima, Helena Silva Araújo, comentou a decisão dizendo que a justiça neste caso foi feita.


O promotor Bruno Jardini sustentou a tese de homicídio qualificado e corrupção de menores


Para Helena, irmã da vítima, a justiça neste caso foi feita

Você também pode gostar

PHP Code Snippets Powered By : XYZScripts.com