Policia

Homem é degolado debaixo da ponte do bairro Veneza I

Grande quantidade de sangue espalhada nos dois lados da avenida indicou que Bruno tentou correr de seu assassino    (Fotos: Gizelle Ferreira)


IPATINGA
– Um usuário de drogas foi covardemente assassinado na madrugada de ontem (24), no bairro Veneza I. Por volta de uma 1h, Bruno Rosa Teixeira, o “Pimpão”, de 22 anos, que mora debaixo da ponte na avenida Macapá, foi atacado e degolado. Mesmo ferida, a vítima ainda conseguiu ter forças para gritar por socorro. Mas ele acabou morrendo sobre a ponte.
Marcas do homicídio chamaram atenção de quem passou no local. Grande quantidade de sangue espalhada nos dois lados da avenida indicou que Bruno tentou correr de seu assassino e ir em busca de socorro. O perito Batista compareceu ao local e constatou várias marcas de sangue embaixo da ponte e em algumas roupas de cama onde a vítima provavelmente dormia.
A companheira de Bruno, Dieula Alves dos Santos, 26 anos, contou à polícia que estava com ele, quando saiu para buscar água. Ao retornar, deparou com marido agonizando na rua. Segundo consta na ocorrência da PM, a mulher viu um indivíduo encapuzado correndo pela linha férrea da antiga Maria Fumaça. Na ocasião, o homem deixou cair uma faca e depois a pegou novamente, correndo em direção ao Parque Ipanema.
A vítima – que era usuária de crack – possuía várias passagens pela polícia. Segundo testemunhas, ele sempre causava confusão com as pessoas, a maioria delas também dependentes químicos.
Ainda na manhã de ontem, a Polícia Militar conduziu um suspeito para a Delegacia de Polícia. Segundo o sargento Valdeci, uma testemunha identificou o assassino de Bruno. O acusado foi pego em flagrante na rua Nossa Senhora das Graças, no Centro, enquanto vendia drogas. Na casa dele, a PM encontrou uma barra grande de crack, várias buchas de maconha e R$ 1,3 mil em dinheiro. O traficante confessou ser o dono dos entorpecentes e do dinheiro, mas negou ter matado Bruno.

PONTE
Enquanto a reportagem estava no local do homicídio, a companheira de Bruno, que se dirigia ao Instituto Médico Legal, apareceu em pratos, abalada e dizendo que não sabia quem matou o marido.
“Quando fui ver ele estava em cima da ponte, cheio de sangue. Eu coloquei Bruno no meu colo, comecei a gritar desesperadamente por ajuda e pedi a ele para não me deixar. Ele ainda estava vivo, queria dizer alguma coisa, mas não conseguiu”, disse a mulher, chorando.

CRACK
Dieula, nascida em Governador Valadares, se juntou com Bruno há cerca de sete meses e o casal foi morar debaixo da ponte na avenida Macapá, no bairro Veneza I. Mas a vida no crack já anunciava a tragédia. Dieula, que confessou também ser usuária de crack, contou à reportagem que Bruno era muito implicante e que vivia ameaçando as pessoas. “Qualquer coisinha era motivo dele ficar brigando com os outros. Ficava batendo nos outros, tomava dinheiro das mulheres na “pista” (rua) e ficava ameaçando muita gente de morte. Acabou que foi ele que morreu”, relata.

COVARDIA
Dieula acredita que Bruno estava dormindo no momento em que foi degolado. Segundo conta, o travesseiro estava sujo de sangue e a vítima estava completamente nua. Após ser atingido, ele saiu correndo pedindo socorro. “O que fizeram com ele foi uma judiação só. Ele estava dormindo, se ele estivesse acordado isso não teria acontecido. Depois da facada, ele ainda conseguiu correr. Ele estava pelado, peladinho”, disse.

DE VOLTA
A companheira de Bruno, que não permitiu ser fotografada, disse que a única coisa que pensa é reencontrar os seis filhos que vivem em Governador Valadares com familiares. Mas disse que pretende se “curar” do crack antes de reencontrar os parentes. Ao ser questionada sobre o que quer da vida, a mulher chorou e disse. “Ir para uma clínica de recuperação. Essa vida não compensa, o mundo é cruel e ruim”, diz.

“Eu não tenho como encarar minha família”, diz usuária
Ipatinga
– Estudo recente da Confederação Nacional de Municípios (CNM) traçou uma radiografia da realidade do crack no Brasil. A pesquisa traz dados alarmantes e aponta que a droga já chegou a 98% dos municípios brasileiros. Quatro mil pessoas foram questionadas sobre a presença ou não do crack e sobre o desenvolvimento de políticas públicas voltadas à prevenção e ao controle do uso.
Mais de 91% não possuem programa municipal de combate ao crack e nenhum tipo de auxílio dos governos federal e estadual para desenvolver ações. E, apenas 8,43% desenvolvem algum programa municipal de combate. O número de usuários de crack hoje no Brasil está em torno de 1,2 milhão e a idade média para início do uso da droga é 13 anos.
Pelo baixo valor e o alto poder alucinógeno, o crack tem feito inúmeros reféns a cada dia. E embora a polícia realize as apreensões rotineiramente, a droga que ganha cada vez mais espaço em todas as classes sociais já se tornou para muitos uma epidemia e um problema de saúde pública.
Natália Pereira de Assis, 28 anos, amiga de Bruno, assassinado ontem em Ipatinga, está entre os usuários de crack que continuam sem tratamento. Sem deixar ser fotografada, Natália conversou com a reportagem. A morte do amigo fez Natália relembrar o assassinato do irmão, em julho deste ano. Robson Oliveira de Assis, 30 anos, também usuário de drogas, foi executado a tiros no bairro Iguaçu. “Eu perdi um irmão, acabei perdendo um amigo. Então a gente só vê coisas ruins. Brigas, tapas, homem batendo em mulher. Eu quero ser uma pessoa normal e preciso ser internada. Não tenho mais coragem de encarar a minha família”, afirma.
Natália tem dois filhos, um de sete meses de vida e outro de 10 anos de idade, que moram no bairro Iguaçu com sua mãe. Natália disse que, por causa das drogas, tem como moradia as ruas de Ipatinga, onde considera mais fácil sustentar o vício. Para isso ela cata papel, faz bicos como faxineira, mas o uso frequente da pedra a tem impedido de ser uma pessoa “normal”. “Eu uso crack o dia inteiro, 24 horas. Fico quatro dias sem comer, sem dormir e quando o corpo não aguenta a gente cai em qualquer canto”, relata.


Pelo baixo valor e o alto poder alucinógeno, é cada vez maior o número de reféns do crack

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