Cultura

Governo sem escola

Do discurso fundamentalista da Escola sem Partido, o País vive um governo sem escola, caótico e sem propostas para a educação

(*) Fernando Benedito Jr.

Às vésperas de completar 100 dias de governo, o Ministério da Educação e Cultura ainda não conseguiu efetivar os contratos do Financiamento Estudantil (Fies), que foram prorrogados até o próximo dia 5. O resultado da chamada única do Fies do primeiro semestre de 2019 foi divulgado em 25 de fevereiro. Inicialmente, o edital previa o período entre 26 de fevereiro a 7 de março, para a fase de complementação da inscrição, que é quando os estudantes apresentam documentos mostrando que preenchem os requisitos para participar do programa. Porém, quando os estudantes chegavam à fase de efetivamente fechar o contrato do Fies com a Caixa Econômica Federal, eles são informados de que faltam informações no cadastro para finalizar o processo.

Além do Fies, os estudantes brasileiros que tem no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) a principal porta de entrada para as faculdades brasileiras correm o risco de ficarem sem fazer as provas. Além da falta de gerenciamento do MEC (que até agora já conseguiu promover 16 demissões em escalões superiores, sem conseguir colocar ninguém com competência para resolver os problemas que arruma), a gráfica que faz as provas do Enem faliu.

Enquanto isso, o ministro Ricardo Velez segue discutindo kit gay, mamadeira de piroca, escola sem partido, sugerindo que os professores se armem para evitar massacres em escolas (enquanto o presidente e seus filhos fazem proselitismo do uso de armas de fogo), enfim, batendo cabeça, nomeando e exonerando cargos, numa disputa idiota entre olavistas e militaristas, e falando asneiras, assim como os subalternos que contrata – os meninos vão ficando sem escola, sem conhecimento. A última contratada, diga-se de passagem, Iolene Lima, durou poucos dias, depois de defender que o ensino da matemática, português, ciências, física, química, etc, tinha que ser ensinado conforme os princípios bíblicos. A ignorância fundamentalista que campeia pelo MEC e arredores, a seguir a toada, em breve será responsável pela convocação dos terraplanistas para ensinar geografia, de analfabetos para ministrar física quântica e por aí afora…

A falta de diretrizes a respeito dos rumos da educação no País pode ser medida pela régua do ministro Velez durante sua audiência na Câmara ao apresentar o power point sobre os “eixos prioritários de atuação para a educação básica”, que elencava quatro pontos: Discussão do Fundeb [o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento na Educação Básica], descentralização responsável, fortalecimento dos municípios e superação de desigualdades regionais.

A absoluta ausência de clareza do que significa os “eixos básicos”, por si só, já seria suficiente para sua demissão. Mas o presidente Bolsonaro, em nome da governabilidade e para não dar demonstração de fraqueza no início do governo, acaba dando uma demonstração de imbecilidade ao sustentar no cargo um idiota completo. Nada mais previsível, aliás. Na verdade, o presidente não deve nem conseguir perceber o tamanho da estupidez do ministro.

Em linhas gerais, é assim que tem sido tocada a educação no Brasil sob o novo governo. Considerando que trata-se de uma área fundamental para o desenvolvimento do País, para a produção intelectual e formação de um povo com cultura e identidade própria e a julgar pelo grau de inteligência de quem conduz as políticas para a área, vamos dar com os burros n’água. Pelo jeito, é isso que querem. E já tem um monte de seguidores.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.

Você também pode gostar

PHP Code Snippets Powered By : XYZScripts.com