Cidades

Eleições em Ipatinga: um cenário de tragédia e seus atores

Por Fernando Benedito Jr.

A decisão do Supremo Tribunal Federal de retroagir Lei da Ficha Limpa, cassar o mandato do prefeito Sebastião Quintão (PMDB) e convocar novas eleições em Ipatinga movimenta os bastidores da política local, embora o cenário de crise fiscal e dificuldades econômicas da Prefeitura não seja lá nada estimulante. O próximo prefeito vai ter que administrar com uma receita que mal dá para pagar a folha de pagamentos e manter serviços essenciais, além do pagamento da complementação dos aposentados e diversos outros compromissos, todos de urgência urgentíssima.
O presidente da Câmara e futuro prefeito Nardyello Rocha (PMDB) é o primeiro da fila sucessória a enfrentar o desafio de se manter em cima do touro até a convocação do novo pleito que ele vai conduzir e, possivelmente, disputar. O “legado”que assumirá de seus aliados – Quintão disse que o grupo peemedebista permanece unido,mas o bom para Nardyello seria se afastar dele –, é desanimador. Uma cidade caótica, sem recursos, endividada, com sérios problemas de gestão em todos os setores. Para governar seria necessária uma imediata reforma administrativa e um gerenciamento competente, o que si só desmantelaria o grupo peemedebista no poder. Sem grandes desgastes, Nardyello tem despontado como o principal nome para o Executivo na extemporânea. Conhece a realidade do município, tem experiência como vereador, bom trânsito na sociedade, visibilidade e densidade eleitoral.


Da Câmara surgem ainda outros nomes como as vereadoras Lene Teixeira (PT) e Cassinha (PSB) e o vereador Andrade (Avante). A petista Lene Teixeira tem uma reconhecida e progressista trajetória política e uma folha de serviços que já lhe conferiu três mandatos no Legislativo. Conhece a cidade e os meandros da administração pública, tem uma postura ética e se destaca pelo posicionamento combativo em defesa dos interesses populares na tribuna da Câmara.


Cassinha e Andrade estão na primeira Legislatura, mas tem se sobressaído cada um a seu modo. A vereadora, cujo mandato adota uma postura mais centrista, tem atuado em pautas importantes e participado dos debates acerca da cidade e de seus destinos, embora tente se manter eqüidistante de temas polêmicos. Integrante da base de Sebastião Quintão, fez uma concessão à polêmica ao assumir posição a favor dos aposentados e se negar a votar projetos do Executivo enquanto a questão não fosse resolvida.

Já Andrade, também um aliado e integrante da base de Sebastião Quintão tem assumido posturas mais à direita. Ele tangencia o conflito, principalmente se for contrariar os aliados. Se mostra preocupado com Ipatinga, mas tem uma postura mais bairrista. Empresário bem-sucedido, fez um início de mandato tímido, mas começa a assumir a condição de tribuno ainda que com um discurso claudicante.


A ex-prefeita Cecília Ferramenta também está na disputa e já busca arregimentar forças para a eleição. Vai enfrentar o desgaste do PT nacional e de seu próprio mandato, particularmente, em relação aos aposentados, mas tem um legado importante por ter feito um governo realizador mesmo em situação de crise, pelo empenho em captar recursos externos e pelo histórico político dela e do marido Chico Ferramenta na cidade.


Outra candidatura colocada é a de Daniel Cristiano (PCB). Apresentado como uma alternativa e um novo nome em pleitos anteriores, Daniel obteve boas votações, mas não conseguiu emplacar. A dificuldade em fazer alianças e o purismo político que tenta preservar é uma das razões do bom desempenho eleitoral, mas sem resultados práticos. Segundo informações de bastidores, para estas extemporâneas, o PCB se abriu para o diálogo com o PSOL, o que pode mudar o quadro, senão eleitoral, pelo menos, político para a candidatura, já que areja o discurso e deixa menos árido o dogmático posicionamento de Daniel Cristiano.


Em raia própria, pelo menos por enquanto, o ex-vereador, professor e cineasta Sávio Tarso (PDT), vem se revelando uma grata surpresa política. Conhecedor da cidade, Sávio inspira confiança e sinceridade. Se preocupa em apresentar uma candidatura programática, que faça o debate sobre o município e construa saídas para a crise em todos os aspectos. Sua candidatura de matriz intelectual tem apelo popular e baixa rejeição. Ainda meio outsider, Sávio deve ampliar as conversações em torno de seu nome para a extemporânea, projeto para o qual vem se dedicando há algum tempo.
Com algumas imprecisões, este é mais ou menos o cenário da disputa eleitoral extemporânea em Ipatinga. Se não der certo, daqui há dois anos os candidatos tem nova chance, mas é bem difícil que o ambiente político e econômico mude até lá, portanto, é importante desde já usar a criatividade e ir se adaptando aos novos tempos.

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