Policia

Duplo homicídio se desdobra em atentado e queima de arquivo

José Maria (esquerda) e Diunismar Vital Ferreira (direita) foram mortos por uma dupla de motociclistas em 8 de fevereiro de 2007   (Crédito: Arquivo JVA)

IPATINGA – Passados mais de seis anos desde a execução do mecânico Diunismar Vital Ferreira, 41 anos, mais conhecido como Juninho, e do instalador de máquinas José Maria, 58 anos, o crime ainda está em investigação.
Os dois homens foram mortos por uma dupla em uma motocicleta no dia 8 de fevereiro de 2007, com o mesmo ‘modus operandi’ em que o jornalista e bacharel de Direito Rodrigo Neto de Faria foi assassinado em 8 de março deste ano.

Em seu trabalho investigativo o repórter trabalhou para que o duplo homicídio não caísse no esquecimento e os culpados fossem punidos. O inquérito policial do crime tramitou na 1ª Vara Criminal de Ipatinga.

Consulta feita no site do Tribunal de Justiça apontou que o processo esteve pelo menos oito vezes no Ministério Público entre março de 2007 e agosto de 2011, quando os autos foram remetidos novamente à Polícia Civil. Só que dessa vez para uma Delegacia no município de Venda Nova, Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde o caso permanece sem elucidação.

Diunismar e José Maria estavam sentados em uma mesa do lado de fora da Padaria Guerra, na avenida Macapá, bairro Veneza I, quando foram surpreendidos pelos assassinos.

O CRIME
O mecânico tomava uma cerveja e comia uma porção na companhia de José Maria quando o homem que estava na garupa da moto desceu e abriu fogo contra os dois.
Juninho foi alvejado com quatro disparos de uma pistola semi-automática calibre 380. Já o instalador de máquinas pode ter sido morto como queima de arquivo, pois viu de perto o executor de Diunismar.

Após ser baleado o mecânico tentou se esconder do atirador dentro da padaria, mas caiu nos fundos do estabelecimento. Ele chegou a ser socorrido com vida por uma ambulância do SAMU até o Hospital Márcio Cunha.
José Maria, apesar de ter sido alvejado apenas uma vez, morreu durante um procedimento cirúrgico. No local, ficaram as marcas dos tiros nas vidraças, nos produtos e também nos móveis.

TESTEMUNHAS
“Ninguém sabe de nada, porque foi tudo muito rápido, todos nós corremos na hora do tiroteio. Nunca vi isso na minha vida”, disse uma das funcionárias da padaria na época à reportagem do Jornal Vale do Aço.
O tenente José Monteiro disse que os policiais recolheram na calçada e no interior da padaria 10 cápsulas deflagradas de pistola semi-automática calibre 380 e ainda um projétil. “Realizamos buscas na cidade, mas sem sucesso na prisão da dupla. Todo mundo que a gente conversou não soube dar as características dos autores ou do veículo”, disse o militar na ocasião.

MOTIVAÇÃO
Depois do bárbaro homicídio, os familiares de Juninho relevaram que o mecânico tinha problemas com várias pessoas, em especial com um capitão da PM que teria feito ameaças a Diunismar em função do envolvimento deste militar com a namorada do mecânico à época.

Foi possível apurar ainda que havia um processo na Justiça envolvendo o policial e o mecânico. Testemunha ouvida pela reportagem do Jornal Vale do Aço disse que a namorada de Diunismar esteve na padaria momentos antes do duplo homicídio. A mulher discutiu com a vítima e depois foi embora.

AMEAÇAS
Dias antes de morrer, Juninho confidenciou à sua ex-mulher que tinha recebido ameaças de morte. “Não gostaria de falar sobre o que pode ter ocorrido, mas a última vez que o vi, estava com medo e falando na possibilidade de ser morto”, comentou a mulher.

Já para amigos próximos, Diunismar chegou a pedir refúgio para se esconder. Ele ficou abrigado por mais de 30 dias em um quarto na casa de um conhecido por temer pela sua segurança.
Diversas vezes o mecânico comentou sobre ameaças feitas pelo militar. Diunismar morava em um apartamento na avenida Macapá junto com a namorada, quase em frente à padaria onde ele foi morto. A relação deles era tumultuada. O triângulo amoroso teria durado mais de três anos até Juninho ser morto.

LUGAR ERRADO
O instalador de máquinas José Maria pagou com a vida por estar na companhia de Juninho. O homem estava em Ipatinga a trabalho havia alguns meses, mas morava no bairro Granja Verde, em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte.

A filha dele, Maria Aparecida Santos, foi quem esteve na cidade para liberar o corpo do pai. Ela comentou que José Maria criou os nove filhos e não tinha desavença com ninguém. Ele viajava por todo o estado reformando postos de combustíveis.

“Ele estava há pouco tempo em Ipatinga e surge esta pessoa que o matou sem ele dever nada. Perdi meu pai, mas acima de tudo um amigo. Gostaria de falar para este assassino que nos tirou o pai, que confio muito em Deus. Sei que Ele vai cobrar esta injustiça contra uma pessoa de quem todos gostavam”, declarou Maria Aparecida.

TENTATIVA
Após duas semanas da execução de Diunismar, o irmão dele Márcio Vital Ferreira sofreu uma tentativa de homicídio. O fato aconteceu no dia 20 de fevereiro no quilômetro 17 da MG-232 em Santana do Paraíso, próximo a Cachoeira do Bela Vista.

A vítima relevou que dirigia seu carro quando outro veículo emparelhou com o seu e um homem abriu fogo contra ele. Márcio apontou Daniel Silva Araújo como o autor dos tiros, mas não soube informar aos policiais o motivo do atentado.
Inicialmente a Polícia Civil trabalhou com a hipótese de que haveria ligação entre a tentativa e a execução de Diunismar. Mas as investigações feitas pela delegada Adeliana Xavier apontaram que Daniel teve uma desavença com Márcio em função de um som automotivo.

LIGAÇÕES PERIGOSAS
A prisão de Daniel pelo atentado também ajudou na elucidação de outro crime, a morte da missionária Anelise Teixeira, encontrada morta às margens da Lagoa Silvana em 17 de janeiro por pescadores. Ele apontou um cabo da Polícia Militar como responsável pelo homicídio. Pouco depois, Daniel também foi assassinado no local conhecido como Morro da Viúva, numa ação de queima-de-arquivo.

A família de Diunismar foi alvo de um outro crime, o primeiro, quando um outro de seus irmãos, que trabalhava como mototaxista, foi assassinado. Durante vários anos, Diunismar lutou para que a justiça fosse feita neste caso. Ele vivia em peregrinação pelas delegacias, fórum e jornais da cidade, em busca de uma resposta para o crime.

(Matéria publicada em homenagem ao trabalho desenvolvido pelo jornalista Rodrigo Neto que, enquanto atuou, cobrou incessantemente das autoridades uma solução para casos não resolvidos – Comitê Rodrigo Neto)

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