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Direita comenta decisão do STF desprezando democracia e saber

(*) Fernando Benedito Jr

Insisto em perder tempo lendo os comentários das pessoas de quem discordo nas redes sociais. Não sei porque faço isso já que desperta uma coisa muito ruim, um aperto no coração de ver tanta ignorância. Talvez seja uma forma de exercitar o convívio com a diversidade de pensamento e aprender a respeitá-lo, mas confesso que é coisa muito difícil, nem tanto pelas diferenças de pensamento, mas pela inexistência dele. É também uma tentativa de ver e entender o que pensa o outro, ver pelo olhar do outro, sentir o estranho e o estranhamento. Conhecer a outra versão.

Em geral, quando se trata de decisões, como a tomada pelo STF, o comportamento é de uma torcida de futebol. Uns são contra, outros a favor. A partir daí, começam os linchamentos. Não há análise, aprofundamento. O voto do decano Celso de Mello, por exemplo, foi um primor, as referências jurisprudenciais, o conhecimento da história jurídica, as citações bibliográficas, etc, são uma verdadeira aula. Num elogio rasgado, Toffoli disse que o decano sabe de cor a maioria das constituições do mundo. O ministro Gilmar Mendes, polêmico, mas sábio, tem suas convicções e as expõe de forma corajosa. Não pesou a mão ao criticar os exageros da Lava Jato e do Ministério Público durante a sessão do STF que mudou o entendimento sobre prisão em 2ª instância. Lembrou das escutas ilegais, das invasões de privacidade, das prisões injustas e espalhafatosas, dos ataques ao próprio STF.

As críticas que se lê, no entanto, se reduzem ao voto de minerva de Toffoli, que colocou fim às prisões em 2ª instância, num argumento muito bem referenciado e alinhavado na idéia de que as prisões podem ocorrer até em primeira instância, o que não pode deixar de existir é o preceito constitucional de amplo direito de defesa até o trânsito em julgado em última instância. Andou no fio da navalha o tempo todo para não ferir um lado ou outro da Corte. Foi claro em dizer também que a impunidade independente de primeira, segunda ou terceira instância e citou inúmeros casos, entre os quais o da boate Kiss, no RS.

Mas, os comentários nas redes sociais e sobre os noticiários são muito burros. Que fique claro, gado, isso não é um jogo de futebol. O jogo vai acontecer depois que Lula for solto.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.

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