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Depois das bravatas e gestão pífia, Bizarro consegue fechar São Camilo

FABRICIANO – O prefeito de Coronel Fabriciano, o médico Marcus Vinicius Bizarro (PSDB) fechou o Hospital São Camilo, que vinha funcionando precariamente, razão pela qual a administração municipalizou a instituição. O São Camilo de Coronel Fabriciano, era gerido pela Fundação de mesmo nome. Até o ano passado, o hospital São Camilo (antigo Siderúrgica) recebia através de convênios cerca de R$ 1,4 milhão/mês, repassados pelo governo federal e governo estadual. Ao municipalizar o São Camilo, o governo de Marcus Vinicius mudou o nome da instituição para Hospital “José Maria de Morais” e pretendia transferir o gerenciamento para outra mantenedora, a Beneficência Bom Samaritano, de Governador Valadares, ligada a Renato Fraga, ex-secretário de Saúde em Ipatinga, na gestão anterior de Sebastião Quintão (PMDB). O convênio com o Bom Samaritano, contudo, jamais foi consolidado.

CORPO CLÍNICO
Ao contrário de post feito na rede social, em tom de bravata, às vésperas de assumir o controle do hospital São Camilo, em plena Cidade Administrativa, onde havia acabado de sair de um encontro com o secretário de Estado de Saúde, Sávio Souza Cruz; nesta terça-feira (30), o prefeito municipal publicou nota no site da Prefeitura assumindo postura mais branda, mas não menos arrogante, e atribuiu o fechamento ao corpo clínico da instituição. “O corpo clínico do hospital decidiu, por meio de advogados, suspender novos atendimentos, cuidando apenas dos pacientes que já estão internados na instituição”, diz a nota.
Entretanto, ao que parece, o prefeito Marcus Vinicius não foi bem orientado quanto ao repasse de recursos dos governos federal e estadual ao município, que só podem ser feitos com a gestão plena dos serviços de saúde, critério no qual a cidade não se encaixa para receber diretamente os recursos dos dois entes da federação, via Fundo Municipal de Saúde.

AO VENCEDOR AS BATATAS…

Em nota divulgada no dia 9 de maio, data em que venceu o contrato da Fundação São Camilo, então mantenedora do Hospital, a Secretaria de Estado de Saúde informava que devido ao término do convênio e à impossibilidade legal de sua renovação, foi realizada a cessão para uso das instalações e equipamentos da unidade em benefício do município de Coronel Fabriciano.
“Os entendimentos entre os entes vêm ocorrendo há alguns meses, e nas últimas semanas foi possível operacionalizar a parceria. A SES-MG continuará responsável por mais de 60% do custeio dessa unidade hospitalar, mas avalia que o gestor municipal, além das atribuições legais, terá melhores condições de programar e avaliar os serviços prestados pelo Hospital em benefício da população da região”, dizia o documento.
E ainda: “A Prefeitura de Coronel Fabriciano definiu que a Fundação Bom Samaritano será responsável pela administração do hospital, até que haja o chamamento público a ser realizado pela Prefeitura, o que ocorrerá em seis meses”.
Ainda segundo a nota da SES, “nesta quarta-feira (10/05), foi realizada uma reunião entre a SES-MG, a Prefeitura de Coronel Fabriciano, a Fundação Bom Samaritano e o São Camilo para iniciar as discussões sobre a transição, e a SES-MG manterá seu representante no município para acompanhar os desdobramentos nos próximos dias.

JOGO DE EMPURRA

Agora, diante da tragédia anunciada, a administração municipal que devolver a “batata quente”, conforme comunicado divulgado nesta terça no site da Prefeitura: “O Hospital São Camilo é de propriedade do Estado de Minas Gerais e o contrato de gestão com a mantenedora, Sociedade Beneficente São Camilo, se encerrou no último dia 9 de maio. As medidas possíveis e necessárias para se evitar a paralisação, ainda que temporária do hospital, vêm sendo articuladas entre o Município e o Governo do Estado, o que se dá em duas frentes: O reconhecimento da Gestão Plena dos Serviços de Saúde pelo município, e a cessão administrativa do hospital ao município, incluindo-se o bem imóvel e os bens móveis que lhe integram”.
Depois de “elogiar” as negociações entre município e governo do Estado, o prefeito Marcus Vinicius volta a salientar que não tem nada a ver com o problema do São Camilo. “É importante salientar que desde o início das tratativas, o Estado de Minas Gerais, na pessoa do Secretário de Estado da Saúde, Sávio Souza Cruz, e toda sua equipe, conduzida pela subsecretária Maria Turci, foi solícito e responsável com a melhor solução para o povo de Coronel Fabriciano e vem cuidando das medidas legais pertinentes”. Em seguida, conclui: “Cabe ressaltar, que o Hospital São Camilo é do Estado tendo sua gestão, controle e manutenção sob inteira responsabilidade do Governo de Minas”.

IRONIA DO DESTINO

O ex-prefeito de Coronel Fabriciano e também médico Chico Simões (PT), dias antes do atual governo assumir o Hospital, já previa em post nas redes sociais: “Hospital São Camilo, de Fabriciano, pode ter seu funcionamento interrompido”.
Conforme Simões, “é muito comum durante a campanha eleitoral o candidato dizer para o eleitor que basta ter vontade política que todos os problemas da cidade serão resolvidos. Foi exatamente isso que o então candidato Marcos Vinicius passou para o eleitor de Coronel Fabriciano”, lembrou Simões, que postou um vídeo de Marcos Vinicius Bizarro ao lado do deputado federal Domingos Sávio (PSDB), no qual o candidato a prefeito diz: “Agora estamos perto de encerrar as atividades do São Camilo e por que isso? Lá atrás fomos atacados que o nosso governo (governo Aécio Neves e Anastasia) não ajudava a saúde. Agora o governo é deles [PT], eles tem os deputados, a administração municipal é deles, e não temos saúde em Coronel Fabriciano, não temos maternidade em Coronel Fabriciano, não temos pediatria em Coronel Fabriciano e o hospital está novamente para fechar as suas portas”,criticava Bizarro.
Chico Simões retoma a palavra no vídeo e questiona: “E aí, doutor? O hospital São Camilo, outra vez, no seu governo, ameaçando fechar as portas. Hoje o governo federal do traidor Temer tem o apoio irrestrito do seu partido [PSDB]. O deputado Domingos Sávio é seu e o senhor é o prefeito da cidade. Todas as condicionantes estão em pleno funcionamento para que o senhor possa dar uma solução definitiva e o hospital venha a funcionar na sua plenitude, na clínica, pediatria, nos partos, traumatologia, cirurgia e outras atividades que são importantes para a assistência à saúde na nossa cidade. Torço para o senhor, e para que o hospital permaneça aberto e funcionando da melhor maneira possível”, arremata o ex-prefeito.

O DEPUTADO
O problema do Hospital São Camilo mobilizou também o deputado por Coronel Fabriciano Celinho do Sinttrocel (PCdoB) que se reuniu com o secretário de Estado da Saúde, Sávio Souza Cruz, na data do vencimento do contrato com a mantenedora, Fundação são Camilo, para discutir a situação da instituição, que ameaçava paralisar o atendimento público na região nesta data. Segundo Celinho, o secretário de Estado da Saúde Sávio Souza Cruz lhe garantiu que o Estado e a União continuarão a financiar a unidade hospitalar com recursos mensais de R$ 1,5 milhão – sendo R$ 1 milhão do Governo Estadual e R$ 500 mil do Governo Federal – ao município que faria um contrato emergencial de seis meses a contar de 10/05 com outro gestor.

PREMISSAS

Segundo o deputado Celinho, o município receberia dia 10 a autorização de cessão de uso da unidade hospitalar e, no prazo de seis meses deveria realizar uma licitação pública para definição de um novo gestor para o hospital. “Algumas premissas já foram definidas como a obrigatoriedade de atender apenas o Sistema Único de Saúde, não podendo atender a convênios particulares, e também o atendimento a toda microrregião de Coronel Fabriciano que engloba oito cidades: Antônio Dias, Coronel Fabriciano, Córrego Novo, Dionísio, Jaguaraçu, Marliéria, Pingo D’água e Timóteo”, esclareceu o deputado à época.
Ele acrescentou que na licitação seria definido o desenho dos serviços a serem prestados pelo novo gestor, podendo ser incluídas especialidades como ginecologia, pediatria, ortopedia e maternidade, como também outros serviços a serem prestados pelo hospital. Segundo Celinho, o Estado exigiria do município o cumprimento de metas para o contrato emergencial.

INCONSEQUÊNCIA
Nesta terça-feira o ex-prefeito Chico Simões voltou a se posicionar sobre o fechamento do Hospital São Camilo nas redes sociais. Segundo ele, quando o prefeito Marcos Bizarro municipalizou o Hospital São Camilo, ele [Simões] sabia, que tocar um Hospital, “não é tarefa fácil, principalmente para governantes inexperientes em gestão”.
“Hoje – prossegue Simões –, o Hospital fecha suas portas, lastimavelmente”.
“Confesso – prossegue o ex-prefeito – que achei corajosa a atitude do prefeito de Fabriciano. Não teria tamanha coragem de assumir uma responsabilidade desta magnitude, diante do descaso de outras esferas de governo com a saúde pública em nosso país. Uma coisa já fica definida, o bom ou mau funcionamento da saúde em Fabriciano (Hospital, postos de saúde, UPA etc.) é de inteira e exclusiva responsabilidade do prefeito. Não tem como responsabilizar o Estado ou a União”, conclui Simões, devolvendo a “batata quente” a Bizarro.

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