Cultura

“Democracia em Vertigem” leva crise política brasileira à Netflix

Por Natalia A. Ramos Miranda

SANTIAGO (Reuters) – Nas últimas tomadas de seu documentário “Democracia em Vertigem”, que estreia nesta quarta-feira na Netflix, a diretora brasileira Petra Costa pergunta como lidar com a vertigem de um futuro que parece mais sombrio que o passado.

“De onde tirar forças para caminhar entre as ruínas e começar de novo?”, indaga a diretora com voz calma e profunda, enquanto imagens aéreas mostram as avenidas monumentais de Brasília como cenário das disputas políticas que dividiram o país nos últimos anos.

Veja o trailer:

FÁBULA

“O filme é um retrato da crise política brasileira na primeira pessoa, e de certa forma é uma fábula dos nossos tempos”, disse Petra, de 35 anos, em uma entrevista à Reuters por telefone antes do lançamento de seu filme, que foi recebido com boas críticas no festival de cinema de Sundance, na plataforma de streaming.

“Democracia em Vertigem” traça uma linha entre a promissora chegada de Lula ao poder em 2003, os grandes protestos de rua de 2013, o impeachment da presidente Dilma Rousseff e a eleição presidencial de Jair Bolsonaro.  

“A democracia está em crise não só no Brasil, mas no mundo, e eu espero que ele (filme) possa resgatar o diálogo e a crença nos valores fundamentais da democracia”, acrescentou a cineasta, que nasceu dois anos antes do fim do regime militar (1964-85).

PONTO DE PARTIDA

Filha de militantes de esquerda que se opuseram à ditadura e a uma tradição familiar de direita, Petra explora as fissuras e contradições dos processos históricos de uma maneira pessoal, tendo como ponto de partida o julgamento político de Dilma em 2016.

“Comecei a desenvolver essa narrativa que é a relação de um cidadão com a própria democracia”, comentou. “Achei que seria um ponto de entrada que poderia conectar pessoas mundo afora com a história que eu estava contando. Acho que o mundo inteiro entrou numa crise parecida num momento muito parecido.”

A documentarista entrevistou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, hoje preso por corrupção, e Dilma, que disse que conseguiu conhecer melhor através de sua própria mãe, já que ambas compartilham um passado de militantes nos anos da ditadura militar.

“Eu vi muito da minha mãe na Dilma e pude entender muito da Dilma através da minha mãe, e por isso acho que insisti muito em tentar acessar lados dela que ela não mostrava facilmente para qualquer um”, disse Petra, conhecida por “Olmo e a Gaivota” (2015) e “Elena” (2012).

CORRUPÇÃO E LAVA JATO

O filme também se detém na trama de corrupção revelada pela Operação Lava Jato, que abalou toda a classe política e atingiu até mesmo a familiares de diretora, fundadores de uma das grandes empresas envolvidas no escândalo.

Petra Costa diz que ainda não há respostas para as perguntas que faz em seu documentário, embora tenha certeza de que as crises podem desencadear “grandes epifanias”. “O Brasil tem uma chance enorme de evoluir com esta crise, e todos os partidos e personagens envolvidos com essa crise se deram o trabalho de fazer autocrítica”, afirmou.

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