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Defesa de Delúbio usa caixa dois para negar compra de parlamentares

O advogado Arnaldo Malheiros Filho, que defende o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), durante julgamento do mensalão (Crédito: José Cruz/Agência Brasil)

BRASÍLIA – O advogado Arnaldo Malheiros Filho, que defende o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, disse ontem (6) que seu cliente operou caixa 2 durante a campanha eleitoral de 2002. Segundo ele, os recursos recebidos ilegalmente pela legenda não serviam para comprar parlamentares, conforme a acusação do Ministério Público.
“O PT não podia fazer transferência bancária porque o dinheiro era ilícito mesmo (..). Delúbio não se furta a responder ao que é responsável. Ele operou caixa 2? Operou. É ilícito? É. Ele não nega. Mas ele não corrompeu ninguém”, disse Malheiros durante a sustentação oral.
Delúbio Soares é acusado de formação de quadrilha e corrupção ativa. Entretanto, para Arnaldo Malheiros a acusação é “pífia”. “A verdade é que a prova é rala, não se presta à condenação de Delúbio Soares de maneira nenhuma”, disse durante a sustentação oral na sessão de julgamento do mensalão desta segunda-feira. Ele usou 40 dos 60 minutos a que tinha direito para fazer a defesa de seu cliente. De acordo com regra estabelecida pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), uma hora é o tempo máximo para cada advogado.
Segundo Malheiros, Delúbio Soares nunca se envolveu com jogo político e não pode ser responsabilizado pelo crime de formação de quadrilha. “O problema dele era arrecadar dinheiro para custear despesas de campanha. Não se pode comprar a maioria parlamentar com 13 deputados (..). Isso não é quadrilha. O Delúbio se associou ao Partido dos Trabalhadores. Eles se associou em torno de um sonho, um projeto de poder e isso não é quadrilha”.
Malheiros entregou aos ministros do STF versão impressa de material que seria apresentado em Power point. O uso de recursos tecnológicos foi negado semana passada pela maioria dos ministros do STF.
Segundo acusações do Ministério Público, Delúbio integrou o grupo que operava o mensalão desde 2003, tornando-se o principal elo entre o núcleo político e os núcleos operacional e financeiro, liderados pelo publicitário Marcos Valério. Ao apresentar a denúncia, na última sexta-feira (3), o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou que, sob o comando de José Dirceu, coube a Delúbio Soares os primeiros contatos com Marcos Valério para viabilizar o esquema de obtenção dos recursos que financiaram a cooptação de parlamentares para votação de projetos de interesse do governo.
De acordo com Gurgel, era também competência de Delúbio Soares indicar a Marcos Valério os valores e os nomes dos beneficiários dos recursos. Recebida a indicação, Simone Vasconcelos e Geiza Dias, funcionárias das empresas de Marcos Valério, executavam os repasses, “dentro da engrenagem de lavagem disponibilizada pelo Banco Rural”.
Gurgel afirmou que Delúbio Soares não hesitou “em se locupletar [enriquecer]” com o esquema. O procurador-geral da República disse ainda que a atuação de Delúbio não se limitava a indicar os parlamentares que receberiam o pagamento e ressaltou que o ex-tesoureiro se beneficiou de pagamentos de R$ 550 mil. Sobre essa acusação, Malheiros não se manifestou durante sua sustentação oral ontem. Em entrevista aos jornalistas, na semana passada, rebateu o desvio de recursos. “Se há uma coisa notória é a simplicidade do Delúbio. Não conheço ninguém que tenha roubado e more na casa da sogra”, disse.
A fase da exposição dos advogados de todos os réus do processo está prevista para terminar no dia 15 de agosto.

Marcos Valério usa o mesmo argumento
BRASÍLIA – Considerado o principal operador do esquema do mensalão, o publicitário Marcos Valério foi defendido nesta segunda-feira (6) pelo advogado Marcelo Leonardo em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), com o argumento de que Valério operava dinheiro não contabilizado para partidos aliados ao PT. Segundo o advogado, o dinheiro arrecadado pelo publicitário tinha origem legal e destinava-se ao pagamento de dívidas eleitorais dos partidos.
“Fato provado é o caixa 2 de campanha eleitoral. Marcos Valério sempre disse que [o então tesoureiro do PT] Delúbio Soares afirmou que o PT tinha dívida de campanha eleitoral própria e assumida com partidos da base”, resumiu Leonardo.
Juntamente com os sócios Ramon Hollerbach e Cristiano Paz, Valério é o recordista de acusações no processo do mensalão, respondendo por formação de quadrilha, peculato, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e evasão de divisas. O Ministério Público considera que ele foi o principal articulador do esquema, transitando entre o núcleo político e o núcleo financeiro para promover a distribuição de verba para fortalecer o PT.
A defesa de Valério foi a única que levou todo o tempo destinado a cada réu – uma hora – em uma longa sequência de negativas sobre o envolvimento do publicitário no esquema. “Isso é uma tortura psicológica”, disse o advogado, criticando o tempo escasso. Na semana passada, Leonardo chegou a pedir aos ministros pelo menos duas horas para defender seu cliente, mas o pedido foi negado.

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