Opinião

De novo, o caso da facada em Bolsonaro

(*) Fernando Benedito Jr.

Para desviar a atenção de seu governo incompetente, corrupto e hipócrita, apontar um culpado e tentar criar um ambiente de consternação, Bolsonaro volta ao tema da facada e dá munição a seus apoiadores e conspiradores

Depois de passar três anos ostentando churrascos de wagyu, viagens inúteis, férias aqui e acolá, carreatas, motociatas e barqueatas pelo País afora, o presidente Bolsonaro aproveita o mal-estar causado ao País após as extravagâncias em Santa Catarina, onde se divertiu à beça em churrascos, dancinhas, passeios de jet-sky e cavalos de pau no hotweels de Beto Carrero, para mandar reabrir o caso da facada que levou em Juiz de Fora, desferida pelo mão bamba do Adélio Bispo.

Com o ato, lança mais pérolas para alimentar seus seguidores, que precisam de algum motivo para continuar publicando sandices nas redes sociais em defesa de seu eterno candidato.

Assim como a “caixa preta” do BNDES, que não tinha nada dentro, o “atentado” contra Bolsonaro já foi investigado à exaustão nos últimos três anos e a única conclusão a que se chegou foi que Adélio agiu sozinho, já estava em Juiz de Fora quando Bolsonaro chegou, portanto, não se dirigiu até lá para cometer o erro e tomou a decisão de acordo com as vozes que ouviu. Que não eram do Lula, diga-se. Cansada de apurar a mesma coisa, a Polícia Federal concluiu que Adélio agiu sozinho. O Ministério Público de MG mandou arquivar o inquérito.

Bolsonaro e os bolsonaristas não foram convencidos e, necessitando continuar com a prosa para ter o que falar e alguém para culpar, trocaram delegados federais, insistiram na tese do atentado orquestrado pela esquerda e pediram para reabrir o caso.

Quem pediu a reabertura, em novembro passado, foi ninguém menos que o criminalista Frederick Wassef, advogado da família Bolsonaro, o mesmo que escondeu o miliciano Fabricio Queiroz no sítio-escritório que mantinha em Atibaia. As investigações sobre o melhor amigo da família Bolsonaro e suas ligações com as rachadinhas em gabinetes dos filhos do presidente, transferência para a conta bancária da primeira-dama, ligações com milianos, etc, tomaram rumo ignorado, os delegados federais foram transferidos e os casos abafados. Como no assasinato de Mariele Franco, nada foi adiante.

O pedido de Wassef foi aceito pelo TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), que determinou a reabertura do caso. O Tribunal autorizou que a PF vasculhe dados bancários e o conteúdo do celular apreendido em poder do advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior, um dos defensores de Adélio.

As informações podem revelar quem custeou os honorários advocatícios, o que, para Bolsonaro e seus aliados, levará a polícia ao suposto mentor do crime.

Em ano eleitoral, é sem dúvida um prato cheio para teóricos da conspiração, terraplanistas e anti-vacinas que, sem ter o que mostrar após três anos de tragédias, que vão de incêndios florestais de proporções amazônicas, incêndio culturais que destruiram museu, cinemateca e hospitais, às enchentes na Bahia, mais o rastro de 620 mil mortos na pandemia, além dos mortos de fome e tristeza… Lá se vão esses conspiradores e criadores de fábulas buscar na facada trêmula a culpa pelo desgoverno.

Diante do nada, era tudo de que precisavam.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.

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