Nacionais

Crise já existia antes do coronavírus

Jair Bolsonaro tenta culpar os outros pela sua própria incompetência

(*) Fernando Benedito Jr.

Poucos dias antes do anúncio do primeiro caso brasileiro de coronavírus, o governo já acumulava uma série de indicadores econômicos mostrando que a situação ia de mal a pior: PIB de 1,1%, aumento do dólar, aumento de preço dos combustíveis, desemprego de 12 milhões de pessoas, redução de investimentos públicos e privados, diminuição do consumo. Com a escalada da crise do coronavírus, o governo brasileiro se aproveita da situação para tentar se eximir de suas responsabilidades e culpar os outros pelo que foi eleito para fazer e não faz – e o pior, conta com o apoio de uma camada sectária e ideologizada da população brasileira que insiste em defender o indefensável, tornando-se tão genocida e irresponsável quanto o próprio presidente. O motivo é unicamente eleitoral.

Jair Bolsonaro insiste no fim do isolamento social alegando motivos econômicos, atribui a culpa pela histeria à imprensa, responsabiliza a China pela disseminação do vírus, radicaliza com os governadores (inclusive de sua base de apoio) e prefeitos por adotarem posturas recomendadas pela OMS e por todos os países do mundo para conter a transmissão da doença. Sem nenhum embasamento científico, em tom de ironia e chacota, Bolsonaro tenta minimizar a intensidade da crise, dos riscos e a gravidade da pandemia. Em nenhum momento usou sua influência para dizer nas redes sociais e meios de comunicação que utiliza quantos respiradores adquiriu para tratar os doentes, quantos testes estão sendo distribuídos a estados e municípios, quantos médicos e trabalhadores de saúde efetivamente contratou para tratar os doentes, quantos leitos, UTIs e hospitais abriu para cuidar dos doentes graves ou não.  Para um genocida como ele, indivíduo que vem das hostes das milícias, desumano por essência, isso pouco importa. O que importa é a economia, são os negócios, o lucro, o dinheiro.

Ao priorizar a economia em detrimento da vida humana, como se pudesse haver desenvolvimento econômico sem as pessoas (vivas, diga-se), Jair Bolsonaro revela o ser abjeto que sempre foi e que conseguiu esconder por muito tempo com mentiras e fake news, evitando o debate de alto nível – até porque não consegue fazê-lo. Não à toa sua popularidade se limita à bolha de seus apoiadores, que repetem seu discurso como robôs (muitos, de fato são), e em breve se arrastará na lama de sua narrativa.

Bolsonaro quer sair da crise do coronavírus culpando os outros pela crise econômica que não conseguiu controlar e que vai se aprofundar num caos ainda maior, por pura incompetência. E ainda tem gente que aplaude.

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