Cidades

Crise hídrica ronda Bacia do Rio Doce

O rio Piracicaba, em Antônio Dias, deságua no rio Doce em Ipatinga      (fotos: Arquivo DP)

(DA REDAÇÃO) – O rio Doce tem como principal formador o rio Piranga, cuja nascente localiza-se na Serra da Mantiqueira. Ao receber as águas do rio do Carmo, o rio Piranga passa a se chamar rio Doce. Suas águas percorrem cerca de 850 km desde a nascente até o oceano Atlântico, no povoado de Regência, no Estado do Espírito Santo.

A bacia do rio Doce compreende uma área de drenagem de cerca de 83.400 km², dos quais 86% do seu território localizado na região centro-leste do Estado de Minas Gerais e o restante na região centro-norte do Espírito Santo. São 228 municípios abrangidos, sendo 202 em Minas e 26 capixabas compreendendo uma população da ordem de 3,1 milhões de habitantes. Cerca de 98% da sua área está inserida no Bioma Mata Atlântica, sendo o restante pertencente ao Bioma Cerrado.

Em termos de potencial hidroelétrico, a bacia do rio Doce tem uma expressiva capacidade de geração de energia elétrica de, aproximadamente, 4,055 MW, sendo 320 MW instalados, 18 MW em construção, 282 MW em projetos básicos, 300 MW em estudos de viabilidade e 3.029 MW inventariados. Na bacia, a água é captada do rio para satisfazer quatro usos principais: irrigação, industrial, abastecimento público e energia elétrica.

MUDANÇA CLIMÁTICA
Numa avaliação do atual cenário da crise hídrica em algumas regiões do País e mesmo do déficit em determinados pontos do rio Doce, o ambientalista José Ângelo Paganini, diretor-presidente da Fundação Relictos, engenheiro e arquiteto especialista em Engenharia Sanitária e Ambiental, diz que são evidentes os indícios da mudança climática.

“A crise hídrica que estamos vivendo é resultante de alterações no clima. São fortíssimos os indícios de que há uma mudança climática em curso, evidenciada pelas análises de séries históricas de dados climáticos e hidrológicos e projeções de modelos climáticos. Estas mudanças climáticas que não são apenas pontuais, trazem consequências na preservação e no uso da água. Há indicações e fatos que apontam para sua possível continuidade, configurando uma ameaça à segurança hídrica da população da região Sudeste. É agravada pelas mudanças no uso do solo, pela urbanização intensa, pelo desmatamento em regiões de mananciais e, principalmente, pela falta de saneamento básico e tratamento de esgotos, aumentando a vulnerabilidade da biota terrestre e aquática e das populações humanas”, enumera Paganini.

SITUAÇÃO DOS RIOS
Atualmente os rios da Bacia do Rio Doce em Minas Gerais são monitorados em nove estações com transmissão automática dos dados. A avaliação da situação das cotas dos rios nestas estações, no dia 6 passado, apresenta o seguinte panorama:
. Estação no Rio Doce, no município de Belo Oriente, apresenta-se dentro da normal, ou seja, encontra-se na cota 63 cm.
. Estação no Rio Doce, no município de Córrego Novo, apresenta-se dentro da normal, ou seja, encontra-se na cota 186 cm.
. Estação no Rio Doce, no município de Governador Valadares, apresenta-se em situação de déficit, registrando a cota de 122 cm, ou seja, 97% do intervalo de cotas considerado normal.
. Estação no Rio Piranga, no município de Ponte Nova, apresenta-se dentro da normalidade, registrando a cota de 128 cm.
. Estação no Rio Piracicaba, no município de Coronel Fabriciano, apresenta-se dentro da normalidade, ou seja, encontra-se na cota 49 cm.
. Estação no Rio Santo Antônio, no município de Açucena, apresenta-se dentro do normal, ou seja, encontra-se na cota 214 cm.
. Estação no Rio Piracicaba, no município de Nova Era, apresenta-se em situação de déficit, registrando a cota de 52 cm, ou seja, 96% do intervalo de cotas considerado normal.
. Estação no Rio Caratinga, no município de Ubaporanga, apresenta-se dentro do normal, ou seja, encontra-se na cota 38 cm.

EPISÓDIOS
Sobre a realidade na Bacia do Rio Doce, José Ângelo Paganini aponta alguns episódios que mostram como a região tem sido atingida pelos problemas hídricos: “Em 2014 tivemos vários episódios de carência hídrica. No início do ano, em Governador Valadares, a ocorrência de floração de ciano bactérias comprometeu o abastecimento da cidade. Na estação seca, tivemos a implantação do racionamento de água em Itabira e dificuldade de captação em Governador Valadares e outras importantes cidades da Bacia”.

“Para enfrentarmos o que vem pela frente – sugere Paganini – devemos urgentemente mudar a forma de gerenciamento dos recursos hídricos, implantando a gestão compartilhada e participativa, fortalecendo os Comitês de Bacias Hidrográficas”.

Ainda segundo ele, “também é de fundamental importância a proteção e conservação da biodiversidade, recuperando matas ciliares, vegetação de topo de morro, áreas de preservação permanente e a interrupção imediata do desmatamento da Floresta Amazônica, de onde provêm a chuvas do sudeste”.

Paganini lembra que no Vale do Aço a Fundação Relictos tem a responsabilidade na conservação e proteção do Parque Estadual do Rio Doce e de sua zona de Amortecimento. “É a garantia de qualidade de vida para todos nós. Afinal de contas a água consumida no Vale do Aço vem de um importante aquífero subterrâneo que é abastecido pelos cursos d’água e lagos existentes na região”, conclui o ambientalista.

 

 

Você também pode gostar

PHP Code Snippets Powered By : XYZScripts.com