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Coronavírus: contando com a sorte

(*) Fernando Benedito Jr.

Não sei se entendi bem, mas achei estranha a declaração do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ao dizer que se o coronavírus brasileiro se comportar como na China, está sob controle. Na China já matou quase 3 mil e infectou cerca de 80 mil. No Brasil, em 24 horas, o número de casos suspeitos subiu de 20 para 132.

Se se comportar desta maneira, vamos supor 50 mil casos, em uma cidade como São Paulo, do tamanho de Wuhan, é perfeitamente administrável, disse o ministro em entrevista repleta de achismos e convicções e poucas certezas. Quer dizer, se matar, digamos, uns 5 mil tá de bom tamanho. Ainda é pouco. A comparação só não ressalta que em Wuhan construíram um mega hospital em 10 dias. No Brasil, em 1 ano não se consegue fazer nem a licitação. Os 58 brasileiros que estavam na China e foram trazidos para o Brasil ficaram em quarentena na Base Aérea de Anápolis. É provável que não tenhamos nem hospitais de campanha, se se chegar a grandes números.

Como o ministro, também tenho lá minhas dúvidas, como as tenho em relação a tudo que vem do governo federal sob a administração de Bolsonaro, ainda que a área de saúde seja de todas a mais técnica, portanto, menos suscetível às ingerências políticas. De qualquer maneira, considerando a falta de médicos, de leitos, de pesquisa, de equipamentos e medicamentos, além do jeito brasileiro para tratar destas questões – descaso e negligência, seguidos de desespero e alarmismo –, não se pode ficar muito tranquilo, não.

Entre as muitas incertezas sobre o avanço do coronavírus, o ministro diz que é preciso ver como o vírus irá se comportar no verão e em um país tropical. Pode sofre mutação para tornar-se mais agressivo ou não, enquanto isso, a gente fica esperando pra ver.

No nosso país, meu maior receio é o Rio Grande do Sul, porque quando teve o H1N1 foi o lugar com maior número de casos e mortes. Mas será que esse coronavírus vai repetir a performance do H1N1 no Brasil?, interroga o ministro, lançando mais uma dúvida. Certamente não é o cidadão comum quem vai responder isso.

Afirmando que a humanidade convive com vírus desde sempre e citando parâmetros como mortes por tuberculose, dengue, influenza e outras gripes, etc, o ministro não aponta nenhuma medida definitiva contra o coronavirus, assim, nenhum empenho governamental, nenhum esforço conjunto ou unilateral para pesquisar e descobrir um antídoto, aumentar número de leitos, por exemplo. Esperamos que haja em breve uma vacina. Os vírus respiratórios tem essa característica de se dispersarem por saliva, contato de nãos, superfícies. É praticamente impossível você chegar e falar: vamos esterilizar o mundo. Mais uma vez, o ministro nos deixa ao Deus dará.

Lembrando que embora a transmissibilidade do coronavírus seja mais alta que a Sars, mas ainda é muito mais baixa do que a Influenza A e B, e que devemos ter a cautela necessária para não deixar de considerar a possibilidade de uso em massa do nosso sistema de saúde, por causa de uma epidemia de grandes proporções, embora não acho que isso vá ocorrer, Mandetta acende meu alerta vermelho para pânico.

Até agora, se depender do governo, quem se contaminar com o coronavírus ficará em isolamento domiciliar, correndo o risco de contaminar mais uns três (pra iniciar uma corrente pequena), em casos mais graves irá para isolamento hospitalar, e por último, vai morrer, mesmo.

Ou seja, estamos à mercê da própria sorte e seja o que Deus quiser!

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.

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