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Chico Simões comemora vitória do PT e diz que região deu o troco

“Tem dois dias que não tem jeito de mexer com eles, o de ontem e o de amanhã”, diz Simões sobre seu futuro político   (Foto: Fernando Benedito Jr.)

DIÁRIO POPULAR – A sua candidata à prefeitura de Fabriciano, Rosângela Mendes, venceu uma ampla frente partidária encabeçada pelo deputado estadual Celinho do Sinttrocel e pelo presidente da Câmara, Francisco Lemos. Quais os principais fatores que levaram à vitória do PT? Para o senhor, o resultado foi uma surpresa?
CHICO SIMÕES – Não. Na verdade, sem nenhuma pretensão, durante toda a vida em que fizemos política aqui em Fabriciano, administramos a cidade do jeito que a sociedade sempre exigiu, naquilo que ela precisa: melhoria das políticas sociais, de infraestrutura e nunca abrimos mão da discussão política em todo lugar onde nos fizemos presente. Conversando com a sociedade, a gente sempre mostrou que eleição tem que ser encarada não como voto individual, mas que por trás da pessoa tem um projeto – e a Rosângela não era minha candidata, era candidata desse projeto. Por isso, tínhamos a convicção muito forte de que ela iria ganhar a eleição, porque ela estava preparada para fazer mais e com um projeto que a sociedade estava aprovando. Nós tínhamos dados mostrando a aprovação do nosso governo, da maneira de tratar a cidade, de fazer política – que não é só usar as virtudes, mas usar as virtudes promovendo a justiça, reduzindo as desigualdades. Isso nós defendemos em toda situação. Eu sempre fiz questão de despertar isso no eleitor. Quando lançamos a Rosângela e o Bruno, nós fizemos questão de não priorizar a quantidade, mas a qualidade. Articulamos uma chapa com duas pessoas experientes para que a gente pudesse ter mais dificuldade para vencer a eleição, mas muita facilidade para governar a cidade. Além da Rosângela e do Bruno, contamos ainda com a militância formalizada, que gosta descaradamente do PT, com uma militância silenciosa, que são os eleitores do PT. Fizemos uma campanha discutindo, debatendo a cidade, e o nosso projeto venceu. Fabriciano reconhece isso e a maioria da população mostrou que já está com uma certa maturidade para entender o que é uma disputa eleitoral. Por isso sempre fui otimista no tocante a pensar que nós iríamos sair vitoriosos.

DIÁRIO POPULAR – O PT estará à frente das quatro prefeituras do Vale do Aço. Houve uma “metropolização” do voto?
CHICO SIMÕES – Você vota porque gosta e porque quer. É uma manifestação de desejo. E, ao mesmo tempo, é a manifestação de não querer, de extirpar o que não está bom. E estas “lideranças novas” que apareceram, capitaneadas pelo deputado Alexandre Silveira, maltrataram muito o Vale do Aço. Ficou muito claro na região que essa maneira de fazer política foi um retrocesso. Quando nós tínhamos aqui as mais antigas lideranças, como o Jamil, Lamego, o Paulo Antunes, o Hélio Arantes, o Lelé, o Geraldo Ribeiro – e o PT era diferente destas personalidades e por isso disputava com elas -; estes políticos tinham uma coisa que todos nós temos: respeito pelo eleitor e respeito pela região. Disputávamos uns contra os outros, mas tínhamos isso em comum: gostávamos da região. Cada um fazia a seu modo, mas respeitando os pioneiros, respeitando a Região Metropolitana do Vale do Aço. Esses “novatos” perderam esse respeito. Eles realmente vieram para fazer política para si. Desrespeitaram a cultura do Vale do Aço. E então, quando a gente vê que o PT teve uma votação maciça nas quatro maiores cidades, isso é, pra mim, primeiro um desejo de retorno do PT – onde o PT saiu -; e, segundo, um ato de repúdio a esses políticos que desrespeitaram a cultura regional.

DIÁRIO POPULAR – Os candidatos apoiados pelo deputado federal e secretário de Estado Alexandre Silveira, representando o campo do Estado, perderam as eleições, mesmo onde eram tidos como favoritos. A que o senhor atribui essa derrota e o que ela representa no cenário político regional?
CHICO SIMÕES – É outra coisa que temos que atribuir ao companheiro Lula. Só tem 10 anos que estamos sendo administrados por essa maneira de fazer política do PT, em que o PT é hegemônico – e em 10 anos não se quebra uma cultura de 500 anos. Mas o governo Lula deu a oportunidade ao eleitor para tomar consciência da importância do voto, que voto não é brincadeira. Ah, porque aumentou a corrupção… Mentira! Isso acontecia desde que o Brasil foi descoberto, só que era tudo escondido debaixo dos panos. O Lula escancarou isso e fez uma política mostrando que aquelas práticas quase impossíveis de acontecer, como aumentar salários, baixar juros, distribuir renda, não eram tão impossíveis assim. O Lula e a Dilma mostraram que era, sim, possível conviver administrando para todos, com um olhar mais diferenciado para os mais pobres, colocando o Brasil no cenário internacional com mais respeito, com o Português sendo falado lá fora. Acho que isso aí melhorou a autoestima do povo brasileiro e o povo começou a sentir que ele é importante.
O projeto que nós enfrentamos aqui é um projeto anti-lula. O projeto do Alexandre Silveira e do PSDB é o projeto do Estado mínimo, da subserviência, do puxa-saquismo, do coronelismo. O Vale do Aço, que sempre foi uma região de vanguarda, deu o troco. Derrotou o projeto neo-liberal, derrotou os tucanos e elegeu um projeto sério, que é um projeto que representa em nível local exatamente aquilo que Lula e Dilma tem feito pelo Brasil, e que é bom pra todos.

DIÁRIO POPULAR – Com o PT no comando nas quatro cidades do Vale do Aço, a Região Metropolitana avança na implementação de políticas públicas regionais?
CHICO SIMÕES – Olha, tem tudo para acontecer. Mas é preciso entender que não depende só dos prefeitos, não. Eu, quando deputado, contribuí para fazer alterações na formatação dos órgãos que compõem a Região Metropolitana. O estado tinha o peso de 1, como todos os municípios, ficava muito desigual. Hoje, a Assembleia Metropolitana, a Agência, todos os órgãos que compõem a RM tem 50% indicado pelo Estado e os outros 50% indicados pelos municípios para que o estado se sinta mais responsável na concepção e para colocar em prática o que deve ser feito.
Pelo menos tenho certeza que uma coisa vai acontecer, com 4 prefeitos do PT: os municípios vão ser administrados de uma maneira mais harmônica, direcionados para aquilo que deve ser a RM, fazendo com que a vida seja minimamente igual para todos que moramos nesta região conurbada. Agora, depende em grande parte do governo do estado.

DIÁRIO POPULAR – O senhor acha que há possibilidade de interlocução com o atual secretário de Gestão Metropolitana?
CHICO SIMÕES – Muito difícil. Acho que o atual secretário, com todo respeito, deveria, inclusive, pedir para ser substituído, porque aqui na Região Metropolitana, o que ele fez de concreto até agora foi colocar Caratinga para pertencer à RM (não tenho nada contra isso, nem contra Bom Jesus do Galho) para atender alguns empreendimentos que estão na periferia da nossa região e não para resolver os problemas propriamente ditos.
Algumas políticas poderiam ter avançado, independente de RM, como a segurança pública. Neste setor, ele poderia ter tentado uma distribuição mais equânime de policiais entre as 4 cidades. Ipatinga tem 2 policiais para 1000 habitantes, em Fabriciano temos 1 para 1000. Ora, peraí, Fabriciano e Ipatinga são bairros um do outro. Existem várias ações que já poderiam estar sendo colocadas em prática. A saúde, por exemplo. A concepção e estrutura do SUS permitem a você chegar aqui e discutir de maneira metropolitanizada de fazer a saúde. Nunca fez. O que ele quis fazer foi colocar Caratinga, talvez por interesses impublicáveis, mais nada.
Ele nem veio aqui votar no dia da eleição. Se não veio votar é porque não se sente bem aqui. Se ele não se sente bem aqui, não acho que vá ter condições de tocar a Região Metropolitana…

DIÁRIO POPULAR – O senhor foi prefeito de Coronel Fabriciano pelos últimos oito anos. Qual o cenário a prefeita eleita irá encontrar em 2013? Quais as principais realizações de seus mandatos e as principais dificuldades que Rosângela Mendes terá à frente da Prefeitura?
CHICO SIMÕES – Dificuldade ela vai ter e Fabricaino também vai ter por algum tempo, pela sua própria origem, pela sua formação geográfica. A cidade é muito acidentada, teve um crescimento desordenado com a chegada das usinas, que tornaram essa região muito forte economicamente, mas Fabriciano paga caro por isso até hoje, porque crescemos sem planejamento e não temos o grau de recursos que as empresas das cidades vizinhas colocam à disposição dos prefeitos. Mas, com certeza, a Rosângela vai fazer um governo melhor do que o nosso. Não tenho dúvidas disso, porque a Rosângela e o Bruno me ajudaram a planejar tudo o que está acontecendo hoje. Nós pegamos a acidade numa situação bem complicada. Quando estávamos começando a pensar, a raciocinar, a recuperar, tivemos uma chuva no dia 15 de dezembro de 2005 que arrasou a cidade totalmente. A Rosângela está herdando uma cidade com planejamento, com vários projetos em andamento para curto, médio e longo prazos, recursos para tocar obras, recursos para fazer projetos para todas as partes altas da cidade, pois já entramos em vários programas, e quando isso ocorre, você tem recursos anualmente para a infraestrutura destas regiões.
A área de saúde foi o nosso maior gargalo, mas também foi o nosso maior avanço. Transformamos um hospital particular em público. Agora temos como cobrar uma assistência maior e, sobrando dinheiro, poderemos investir mais na saúde básica. Acredito também que o Brasil vai começar a discutir uma nova maneira do SUS funcionar e a gente pode discutir regionalmente essa questão, para otimizarmos o que se tem. Por causa disso, tenho convicção de que a Rosângela vai fazer um governo melhor, porque tem experiência, a cidade está planejada e tem como enfrentar os principais problemas.

DIÁRIO POPULAR – Como o senhor avalia a nova composição do Legislativo, a partir de 2013?
CHICO SIMÕES – Olha, eu nunca me preocupei em fazer nenhum tipo de ingerência no Legislativo. Estou falando por mim, porque cada prefeito tem uma maneira de ver essas relações. Nunca preocupei em fazer presidente de Câmara. O que eu sempre falei para os vereadores é que as pessoas votam no vereador e no prefeito pensando que eles vão fazer o bem para a cidade. A Câmara tem que ter o papel dela, de fiscalizar e de fiscalizar de uma maneira correta, não tem que dar refresco pra prefeito. Tem que cumprir o seu papel, mas tem que respeitar o Executivo. O que eu posso dizer é que serei um cidadão sem mandato a partir de 1º janeiro. Mas não vou deixar esta cidade e, certamente, se precisar ir para a rua discutir qualquer impasse na cidade, não vamos nos furtar a isso. Entretanto, acho que o relacionamento tende a ser respeitoso, como sempre foi. Fui prefeito três vezes, nunca tive maioria na Câmara e nem por isso deixei de fazer as coisas, quando surgiam problemas maiores íamos para a rua junto com a sociedade e as coisas caminhavam de forma a beneficiar a maioria da sociedade.

DIÁRIO POPULAR – O que o sr. pretende fazer daqui para frente? Comporá o governo do PT em Fabriciano?
CHICO SIMÕES – Rosângela e Bruno não são só companheiros, são amigos. Pela gratidão que tenho por Fabricianao e pelos fabricianenses, já falei com a Rosângela que estou à disposição 24 horas, se for preciso, pela experiência que gente acumulou, mas como uma pessoa voluntária. Se eu puder ser útil ao governo e a Fabriciano, podem contar comigo, mas de uma maneira altamente gratuita. Não vou participar de governo, não vou dar consultoria. Vou voltar pro meu emprego, sou médico legista, tenho mais dois anos para trabalhar até me aposentar. Vou voltar a ser um cidadão comum, mas como tive o privilégio de ter esta experiência durante 3 mandatos, uma experiência que o povo de Fabriciano me deu, este conhecimento vai estar à disposição do povo, se a companheira Rosângela achar que é preciso.

DIÁRIO POPULAR – Algum projeto para 2014?
CHICO SIMÕES – Só penso no dia de hoje. Tem dois dias que não tem jeito de mexer com eles, o de ontem e o de amanhã…

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