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Campanha incentiva a doação de órgãos em Minas

Jorge Horta da Silveira, transplando no HMC, com o nefrologista Carlos Alberto Chalabi Calazans

IPATINGA – Com o objetivo de conscientizar a população sobre a importância da doação de órgãos e tecidos, a Fundação São Francisco Xavier aderiu à Campanha Setembro Verde. Criada por iniciativa da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), em alusão ao Dia Nacional de Doação de Órgãos (27 de setembro), além da conscientização, a ação fomenta a discussão entre familiares e amigos.
Em 2016, mais de 90% dos processos realizados no país foram financiados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que garante aos pacientes assistência integral, incluindo exames preparatórios, cirurgia, acompanhamento e medicamentos pós-transplante.

2º LUGAR

No caso do transplante renal, Minas Gerais alcança o segundo lugar nacional em número absoluto do procedimento, mas o estado realiza apenas 46% da necessidade estimada para no estado. O aumento da doação e de suma importância para mais pessoas sejam contempladas. “O número de pessoas com problemas renais mais que dobrou na última década, alcançando a marca atual de 120 mil pacientes em Hemodiálise no Brasil”, explica o gerente do Centro de Terapia Renal Substitutiva (CTRS) do Hospital Márcio Cunha e medico nefrologista, Carlos Alberto Chalabi Calazans. “Em MG, existem 22 equipes de transplante renal, sendo 17 ativas e, no leste do estado, o Hospital Marcio Cunha é o único com um centro transplantador, sendo referência para a região. Além do Vale do Aço, atendemos também outras cidades próximas, como Teófilo Otoni, Governador Valadares, Manhuaçu, Caratinga e Itaobin. Em média, realizamos entre 45 e 50 procedimentos por ano”.

DOENÇA RENAL
Aproximadamente, 10% da população brasileira possui algum grau de acometimento renal. Silenciosa e assintomática, este tipo de doença só é notada, muitas vezes, no estágio final, quando os rins estão filtrando menos de 10% do sangue. “São sensações como cansaço, fraqueza, desânimo, soluços e hálito urêmico. Neste momento, as opções de tratamento são a diálise peritoneal, a hemodiálise e o transplante”, conta o presidente da Sociedade Mineira de Nefrologia e nefrologista da Unidade de Transplante do HMC, Daniel Calazans.

Captação de órgãos é
a principal dificuldade

Todo paciente com morte encefálica – lesão irrecuperável que causa interrupção definitiva de todas as atividades cerebrais – é um potencial doador. Entretanto, a decisão final sobre o destino dos órgãos não cabe ao individuo. Até 1997, a lei regulamentada presumia que todos os brasileiros eram doadores. Mas uma reformulação feita em 2001 transferiu para os familiares a responsabilidade sobre esta decisão.
E os motivos são vários. Os parentes enfrentam uma série de dilemas éticos na hora de decidir o que fazer com o ente querido recém-perdido e, a própria dificuldade em compreender o conceito da morte encefálica, contribui para a negação. “A pessoa está na UTI com morte encefálica, mas o coração batendo e os outros órgãos funcionando. Para alguns, é difícil aceitar que ela morreu. Parece que ainda há esperança de recuperação”, afirma o coordenador da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT), Emerson Damasceno Moura.

RELIGIÃO
Neste caso, a religião costuma ser usada como razão para não doar, mesmo que a maioria das doutrinas não se posicione contra tal prática. A crença alimenta a esperança de que um milagre possa acontecer, revertendo o quadro de saúde do paciente. Algo cientificamente impossível em se tratando de morte encefálica. Outros motivos para a negação são o medo da reação e de conflitos com o resto da família, suspeitas de corrupção e do comércio ilegal de órgãos, desconfiança quanto às informações passadas pelos médicos, e muito mais.
“Cerca de 40% das famílias recusam a retirada de órgãos para a doação. Para que esse percentual possa ser menor, permitindo a realização de mais transplantes, é importante orientar as pessoas a falarem com sua família sobre o desejo de ser um doador e salvar vidas. Além disso, um bom relacionamento entre a equipe médica e a família facilita para que a doação seja efetivada”, declara Emerson Moura. “É importante que os familiares do paciente estejam inseridos em todo o processo de acompanhamento médico, de modo que, no caso de óbito, tenham tempo para compreender e lidar com a situação”.
Segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), no ano passado, de maneira geral a taxa de doadores efetivos cresceu 3,5%, atingindo 14,6 pmp (por milhão da população); número 3,4% abaixo do objetivo para o ano. No âmbito renal, dos 5.512 transplantes realizados, 80% foram de doadores falecidos.

Seja um doador

Para ser um doador, o principal é informar o desejo à família porque, após o diagnóstico de morte encefálica, ela é consultada e orientada sobre este processo. A morte encefálica, mais conhecida como morte cerebral, representa a perda irreversível das funções vitais que mantêm a vida, como a perda da consciência e da capacidade de respirar; o que significa que o individuo está morto. O coração permanece batendo por pouco tempo e, é neste período, que os órgãos podem ser utilizados para transplante.
Quando o doador é uma pessoa falecida, podem ser retirados para transplante duas córneas, dois rins, dois pulmões, fígado, coração, pâncreas, intestino, pele, ossos e tendões. Ou seja, um único doador pode salvar muitas vidas.

EM VIDA

Também é possível ser doador em vida, sem comprometer a saúde. Nesses casos, é possível doar tecidos, rim e medula óssea. Ocasionalmente, também é possível doar parte do fígado ou do pulmão. Em Minas Gerais é possível fazer transplantes de coração, córnea, fígado, medula, pâncreas, pele, rim, rim conjugado com pâncreas e tecido ósseo.
“A doação de órgãos, seja em vida seja de um ente querido falecido, é um gesto grandioso que pode salvar vidas ou oportunizar qualidade para quem esteja acometido de doença crônica grave. E reflete ação ideal de que deveríamos cuidar melhor uns dos outros, a fim de criar um mundo bom de se viver para todos”, finaliza o ex-supervisor de palco, Jorge Horta da Silveira, que, em 2010, realizou transplante de rins no HMC.

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