Cidades

Brasil dá guinada à direita

Fernando Benedito Jr.

De tempos em tempos o brasileiro resolve ir às urnas e dar um basta em tudo que está acontecendo no País, mas nem sempre a revolta expressa no voto resulta nas mudanças que se queria fazer. É mais uma onda, um fenômeno momentâneo do que uma resposta politizada e consciente ao estado de coisas que se quer mudar. No caso das eleições de 2018, o voto popular expressa não só uma revolta generalizada com a corrupção e com a política tradicional, mas também a defesa de um certo e indefinido pensamento conservador, firmado em torno da defesa das questões religiosas, da família tradicional, dos interesses do capitalismo, do agronegócio. O resultado da votação, com 46,70% dos votos válidos, o que corresponde a 47.756.864 votos, para Jair Bolsonaro; e 28,37%, o que equivale a 29.013.095 votos para Fernando Haddad, é um tanto plebiscitária, não fosse pelo alto nível de despolitização que caracteriza o pleito.

Depois de 14 anos de governos de esquerda, interrompidos pelo golpe de 2016, que acabou provocando uma ruptura democrática e aprofundando uma crise institucional que permanece até hoje, a maioria do povo brasileiro resolve escolher o outro lado. Faz a opção pela direita no primeiro turno – que deve se repetir no segundo, já que só algum fato inédito muda o atual cenário –, mas dança na beira do abismo, como diria Ciro Gomes. A direita representada por Bolsonaro, de forte viés fascista, anti-democrático (embora se submeta às urnas, ainda que criticando-as), autoritário, militarista, armamentista e preconceituoso é a pior alternativa para quem quer trilhar o caminho da democracia. A situação é tão terrível que se um eventual governo bolsonarista degenerar no caos, ainda sim os brasileiros terão que tolerá-lo. Um impeachament seria tudo de bom para eles. Seria entregar o governo ao general Mourão, que é tudo que querem: um governo militar, que na verdade, é o que teremos, disfarçadamente.

Nesta eleição, em certa medida, os brasileiros dizem o que não querem, mas não se expressam com muita clareza. Por exemplo, ao mesmo tempo em que sinalizam que não querem mais políticos tradicionais, reelegem grandes bancadas de políticos carreiristas e que estão há anos no poder. Ao mesmo tempo em que rejeitam nas urnas nomes tradicionais, envolvidos em casos de corrupção e sob investigação; reelegem vários outros que estão comprometidos até o pescoço com casos de corrupção, como Aécio Neves (PSDB). Votam em defesa da família e, simultaneamente, num ator pornô, como Alexandre Frota, que não representa absolutamente nada, é uma cabeça oca, uma Cicciolina reversa.

A eleição de Fernando Collor, em 1989, por um pequeno partido, o PRN, é algo mais ou menos parecido com o que se vê hoje com Jair Bolsonaro. Aquela onda de messianismo, em que o salvador da Pátria chega como um justiceiro para resolver todos os problemas do País de uma canetada só e salvar a todos do mal – no caso, o PT, que também já teve Lula como um messias salvador da Pátria. Serve para o caçador de marajás e para o senhor das armas. Cria-se uma expectativa enorme, que logo se frustra, e o brasileiro com sua prodigiosa memória política passa mais alguns anos experimentando mais do mesmo até que num novo momento resolve fazer uma nova mudança, num movimento cíclico e repetitivo que passa por gerações e gerações, ora dando um passo adiante e dois trás, ora só indo pra trás mesmo.

É um filme antigo.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.

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