Cidades

BR-381 deixa marcas para toda a vida

Os acidentes na rodovia já ceifaram milhares de vidas em tragédias que marcam incontáveis famílias

IPATINGA – A BR-381 é uma estrada que deixa marcas para toda a vida, é o que conta Bernadete Pimenta, moradora de Ipatinga, ao falar da necessidade urgente de o governo federal duplicar a rodovia para diminuir os riscos de acidentes que dizimam, a cada dia, mais e mais famílias. Ela é uma das milhares de pessoas que perderam entes queridos no trajeto entre Belo Horizonte a Governador Valadares. “Não dá para esquecer. Perdi a minha mãe e uma tia. Elas morreram na hora. Outra tia teve graves sequelas e não se recuperou, nem mesmo emocionalmente, morrendo tempos depois”, relata Bernadete. “A BR é muito perigosa, mas é o único trajeto que temos até BH. Não gosto de me arriscar, mas, às vezes, é necessário. Fico pensando nas pessoas que precisam usá-la quase que diariamente”.

LEMBRANÇAS

Bernadete relata que quando precisa ir a BH, vem logo a triste lembrança da tragédia que vitimou sua mãe e tias, deixando uma sobrevivente. A família, que sempre veio em primeiro lugar para as irmãs, acabou sendo desestruturada em grande parte. “Minha mãe e a tia Tereza moravam em Capelinha e as outras em Belo Horizonte. Elas resolveram vir juntas para Timóteo, quando minha tia Aparecida Paranhos ligou bastante triste, dizendo que seu filho, meu primo Wanderson, de apenas 19 anos, estava entre a vida e a morte. Elas não pensaram duas vezes e resolveram vir para Timóteo levar o apoio e conforto para tia Aparecida. Para nossa tristeza, acabaram perdendo a vida no caminho da BR-381. Um carro rodou na pista e bateu de frente com o veículo em que estavam nas proximidades de Caeté. Não houve tempo para sinalizar o local, e logo atrás vinha uma carreta que acabou transformando o acidente em mais uma tragédia na 381. Minha mãe Helma Colen e minha tia Tereza morreram na hora. Tia Ana nunca mais teve uma boa saúde e morreu anos depois. Somente a tia Luzia é viva. Ela teve fratura nas pernas e outros ferimentos”.

TRISTEZA
Bernadete revela ainda que, enquanto ocorria o acidente com a mãe e as tias, seu primo Wandersom veio a óbito. Quando a mãe dele, Aparecida Paranhos, perguntou pelas irmãs que demoravam em chegar, recebeu a trágica notícia do acidente. “Tia Cida passou a carregar uma tristeza profunda e morreu pouco tempo depois, aos quarenta e poucos anos”.

Bernadete compartilha sua dor com as pessoas que perderam entes queridos como é o caso da família de Joaquim Alves da Silva. Ele e sua mãe Maria Aparecida Alves, 67, além de Lourdes do Nascimento Martins, e seu filho Renan Henrique Martins, de sete anos, que residiam em Coronel Fabriciano, perderam suas vidas no último dia 25 em um grave acidente no km 336 da BR 381, em Nova Era. As vítimas estavam em Escort que colidiu de frente com uma carreta bi trem, com placa de Guarulhos (SP). Ela se pergunta: Até quando as famílias terão que se arriscar numa rodovia nestas condições? Bernadete espera a mobilização de toda sociedade, seja pelos movimentos Marcha pela Rodovia da Vida, Nova 381 ou outro que sensibilize o governo federal a duplicar a 381. Na sexta-feira, quando concedia a entrevista, Bernadete foi informada de mais uma tragédia na BR-381. Um menino de dois anos que estava no colo da mãe morreu em acidente envolvendo nove veículos.

Sociedade se organiza e cobra ação efetiva do governo federal
Ipatinga
– Empresários, políticos e sociedade civil e organizada aguardam com ansiedade a licitação das obras de duplicação da rodovia federal prevista para acontecer nos próximos dias. Dois movimentos distintos, mas com os mesmos objetivos, “Nova BR-381” e “Marcha pela Rodovia da Vida” se uniram para irem a Brasília, quando pretendem pressionar o governo federal a não mais interromper este grande sonho que mudará o eixo econômico e social do Vale do Aço, melhorando consideravelmente a logística entre a região e a capital mineira.

A licitação das obras de duplicação e modernização do traçado da BR-381 entre Belo Horizonte a Governador Valadares já foi adiada em vários momentos, como no dia 31 de outubro de 2012, quando o então ministro Paulo Sérgio Passos esteve em Belo Horizonte para anunciar, junto ao governador de Minas, Antônio Anastasia, e secretariado, a abertura do processo licitatório para o mês de novembro. Porém, a data foi marcada para o dia 22 de janeiro de 2013. A ansiedade da população mineira e de todos que dependem da rodovia acabou em frustração no dia 21 do mesmo mês, quando, para surpresa de todos, saiu o edital no Diário Oficial da União, adiando a data. Remarcada para o dia 04 de junho, mais uma vez o governo federal decidiu prorrogar a abertura dos envelopes com as propostas das empresas para os dias 13, 14 e 17 do mesmo mês.

Temendo um novo adiamento e, conseqüentemente, um atraso que resulta a cada dia em mais mortes e impede o desenvolvimento econômico e social do Estado, principalmente do Leste de Minas, empresários de Minas, juntamente com diversas lideranças, lançaram o Movimento Nova 381, atualmente com cerca de 10 mil assinaturas virtuais de pessoas que esperam a sensibilidade do governo federal em não adiar mais uma vez o processo que permitirá as obras de duplicação da rodovia, há anos com o triste nome de rodovia da morte pelos dados estatísticos de vítimas fatais. De janeiro até então, os adiamentos já custaram a vida de mais de 60 pessoas na rodovia.

Vidas e desenvolvimento na ordem do dia de Minas
Ipatinga-
Coordenada pela Regional Vale do Aço e Rio Doce, o projeto Nova 381 tem alinhado as informações acerca da BR-381 pelo site www.nova381.org.br a fim de promover o desenvolvimento socioeconômico do Estado. O presidente da regional Vale do Aço, Luciano Araújo, destaca que a duplicação da rodovia será o grande vetor de desenvolvimento de Minas e a proposta é que a sociedade acompanhe todas as etapas da obra, desde a licitação à conclusão. A proposta é atualizar a informação e colocar disponível a toda a população em tempo real, ou seja, o processo licitatório, empresas contratadas e, inclusive os trechos onde estarão acontecendo as obras.

O saudoso ex-vice-presidente José Alencar, mineiro de Muriaé, certamente estaria apoiando o movimento “Nova 381”, encabeçado pela Fiemg. Antes de entrar em sua primeira disputa eleitoral, inclusive, Alencar foi presidente da Fiemg, de 1989 a 1995, e vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria, defendendo uma postura proativa do empresário na defesa constante dos interesses de Minas Gerais e do Brasil.

Aliás, foi ele, na vice-presidência do governo Lula, um dos grandes parceiros do então diretor do DNIT, hoje deputado federal e secretário de Estado, Alexandre Silveira, na autorização que possibilitou a contratação em 2004 do projeto de viabilidade técnica, traçado e meio ambiente que proporcionou a inclusão da obra no orçamento federal a partir de 2008. Minas sofre com os atrasos na rodovia com as sucessivas mudanças dos gestores dessas pastas, principalmente com diretores de outros Estados.

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