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Bolsonaro só aprofunda o abismo

(*) Fernando Benedito Jr.

O governo Bolsonaro tem sistematicamente tentado justificar sua incompetência para resolver os problemas econômicos atribuindo-os aos governos petistas. No fundo, ainda que de maneira impensada, existe nisso tudo uma estratégia para destruir o legado dos governos de esquerda (Lula e Dilma) e tentar se afirmar sobre alguma coisa. Só que não existe esta alguma coisa que seu governo tenha feito, então, tem que se sustentar combatendo o adversário preso, a adversária fora de combate, o inimigo imaginário, o fantasma do comunismo, os moinhos de vento.

Os governos de esquerda cometeram erros. Muito poucos se comparados com o atual e no mesmo período. Mas antes de atribuir à Dilma “o buraco”, a “catástrofe” em que o País está metido, é preciso lembrar que a instabilidade foi criada pelos opositores golpistas exatamente para viabilizar o impeachment, sem lhe dar chance de consertar o erro. A “catástrofe”, em grande parte, é resultado das medidas adotadas no governo Temer, como a reforma trabalhista que “geraria milhões de empregos”, ao reduzir o ônus sobre os empregadores. Não céu certo. Assim como não dará com a reforma da Previdência, cujo único objetivo é reduzir o ônus sobre o capital. Já nem se fala mais de equilíbrio fiscal.

Só durante o governo Bolsonaro, ou seja, durante este primeiro semestre do ano, os economistas entrevistados pelo Banco Central no Boletim Focus reduziram pela 16ª vez a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). No boletim divulgado na segunda-feira (17), a expansão da economia brasileira para este ano está prevista em 0,93%. O Boletim focus é uma publicação do Banco Central a partir de estimativas do mercado.

O “buraco”, a “catástrofe” já existia e Bolsonaro foi eleito para tirar o País do “caos”. Está acabando de empurrá-lo para o fundo do abismo, em nome da caça às bruxas.

Em campanha permanente, Bolsonaro vive uma farsa quixotesca, cria cortinas de fumaça para encobrir sua incapacidade de gerenciar o País para além do varejo e de interesses mesquinhos de milicianos. Aí, lança mão deste discurso preconceituoso, anti-petista, de ódio, para justificar sua cruzada ideológica contra a esquerda e o fantasma do comunismo, que não existe nem aqui nem na China. Um idiota, na verdade. Cultuador de símbolos fálicos enquanto prega o conservadorismo social e o nacionalista enquanto entrega o País, como fez nesta segunda abrindo em 100% o capital das aéreas – e cobrando dos passageiros pela bagagem. Revelador de sua opção de classe. Revelador de sua confusão mental.

Notícia divulgada pela Agência Brasil, controlada pelo governo, publicada em 2015, diz: “As reservas internacionais do Brasil dispararam nos últimos anos, passando de US$ 37,7 bilhões, ao fim de 2002, para o nível atual de US$ 370 bilhões. As reservas compõem uma poupança valiosa que blinda a economia, dando garantia de que o País honrará seus compromissos com credores nacionais e estrangeiros, mesmo em situações de crise, e barrando riscos de disparada da dívida pública”. As reservas internacionais começaram a ser acumuladas de forma mais volumosa nos governo Lula e Dilma, com ganhos obtidos com o mercado interno dinâmico e divisas geradas pelas exportações e ajudaram a reduzir a dependência e tirar o País das garras do FMI. Hoje o governo Bolsonaro lança mão destas dividas para equilibrar suas contas.

Disso, o presidente e seus robôs não falam. Assim, como não falam dos milhares de brasileiros que saíram da linha da pobreza, de outros milhares que tiveram acesso ao Bolsa Família, Mais Médicos e Minha Casa Minha Vida.

Aliás, o governo direitista, neo-fascista e golpista de Bolsonaro – só ganhou as eleições porque seu principal opositor estava preso – é incompetente até mesmo para destruir o legado de seus adversários: até hoje não conseguiu mudar o nome do Minha Casa Minha Vida, nem do Mais Médicos. Destruiu os programas, não conseguiu colocar outros no lugar, mas manteve os nomes. Ou é falta de criatividade ou é malfeito mesmo, para depois dizer: “Olha aí o que este pessoal do PT fez”.

O fato é que Bolsonaro precisa dar seu jeito. Ou assume logo que esse governo de milicianos é uma lástima, incapaz de governar e só sabe viver de polêmicas, como uma usina que produz crises em larga escala, ou constroi algo de bom e útil para o bem da Nação e da sua própria existência política. Caso contrário, nem os bolsominios vão dar conta da defesa cega e repetitiva deste governo inútil.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.

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