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Bolsonaro ignorou regras contra coronavírus e pode ter infectado 76

Presidente, que diz ter contraído a doença, mas não mostrou exame, transforma contágio em oportunidade para promover cloroquina. Em nota, presidente argentino ironiza colega brasileiro

(DO EL PAÍS) – Jair Bolsonaro, o líder mais negacionista da pandemia no mundo democrático, está disposto a transformar o contágio pelo novo coronavírus – ele disse nesta terça-feira ter testado positivo para a doença – em um veículo de propaganda para a suas ideias a respeito da covid-19. O mandatário brasileiro seguiu insistindo que a infecção pelo novo vírus só é perigosa para idosos e pessoas com doenças prévias, e horas depois do anúncio, postou nas redes sociais um vídeo tomando a hidroxicloroquina, o remédio originalmente para artrite e lúpus que ele defende como capaz de curar a doença, apesar de admitir que não há comprovação científica para tal.

“Estou tomando aqui a terceira dose de hidroxicloroquina. Estou me sentindo muito bem. Estava mais ou menos domingo, mal segunda-feira. Hoje, terça-feira, estou muito melhor do que sábado. Então, com toda certeza, está dando certo”, disse, em vídeo postado no Facebook. “Eu confio na hidroxicloroquina e você?”, arrematou ele.

DISSEMINAÇÃO

O contágio declarado de Bolsonaro pode ter atingido dezenas de pessoas. Dias antes de ser diagnosticado com a covid-19, o presidente da República se reuniu cara a cara com pelo menos 76 pessoas desde o dia 29 de junho. O período em que uma pessoa que está com a doença pode transmiti-la é de dois a seis dias antes do início dos sintomas, conforme dois médicos infectologistas consultados pela reportagem.

SINTOMAS

O presidente registrou indisposição, febre e tosse no domingo, dia 5. Se levar em conta dois dias antes o número de pessoas que se reuniram com o mandatário chega a 44. Os dados constam da agenda oficial do presidente, de imagens registradas por sua equipe de comunicação nesses encontros e das transmissões ao vivo que ele próprio fez em seus perfis nas redes sociais.

Ainda assim, o levantamento está subestimado, já que em várias das reuniões consta o nome de apenas uma pessoa, mas havia várias outras estavam presentes.

REAÇÕES

No meio político nacional e internacional, a reação ao exame do presidente foi imediata. Em mensagem irônica, o presidente da Argentina, Alberto Fernandéz, enviou uma nota de pesar a Bolsonaro. No documento, ele deseja pronto restabelecimento ao colega brasileiro. “Este vírus não distingue entre governantes e governados. Todos e todas estamos ameaçados e por isso os cuidados devem ser redobrados”, dizia trecho do documento. Por ser peronista, Fernandez é considerado um opositor por Bolsonaro.

OPOSIÇÃO

Os opositores do presidente ressaltaram que a atitude negacionista dele e ao não respeitar o distanciamento social acabaram resultando em seu contágio. “Bolsonaro promoveu aglomerações. Vetou a obrigatoriedade das máscaras. Minimizou os efeitos da covid-19 diante de mais de 65 mil mortos. Hoje, após anúncio de seu teste positivo, tirou a máscara e expôs os jornalistas. De tão aliado do coronavírus, Bolsonaro e ele viraram um só”, criticou o líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (REDE-AP), em sua conta no Twitter.

Derrotado no segundo turno da eleição presidencial de 2018, o petista Fernando Haddad, também comentou o tema pelas redes sociais. “Lamento pelos mais de 1,6 milhão de infectados e pelo fato de termos entre nós o pior gestor de crise do mundo. Desejo que todos se restabeleçam, inclusive Bolsonaro”.

O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, afinou o discurso com seu pai sobre o uso da hidroxicloroquina, mesmo que não haja provas de que o medicamento funcione no combate à doença. “O presidente há de sair dessa, o tratamento com cloroquina é bastante eficaz no início da doença (e deveria estar disponível para todo brasileiro que necessitar)”, afirmou em seu Twitter.

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