Cultura

As crianças são mesmo o futuro da nação?

(*) Walber Gonçalves

As crianças são o futuro da nação, um jargão clássico, conhecido e falado por muitos de nós. Comumente remetemos às crianças a responsabilidade pelo futuro da nação. Mas caso tal afirmativa seja verdade, o que temos feito para que as crianças assumam, quando adultas, o protagonismo do país? Que país elas herdarão da nossa geração?

São perguntas que parecem simples, mas deveriam nos remeter a uma profunda reflexão. Pois passado, presente e futuro se fundem na construção do espaço no decorrer do tempo. E de geração em geração, valores, ações, a forma de encarar a vida e lutar pela sobrevivência se perpetuam ou se transformam provocando em certos momentos da história, o que chamamos de choque de gerações, justamente o momento que estamos vivendo.

Assim, o mundo que as crianças estão herdando, é um espaço que de acordo com elas, precisa passar por profundas reformulações. Principalmente, uma reestruturação de valores. Se serão dias melhores só o tempo dirá, por hora a dúvida paira no ar, todavia, cabe-nos observar e refletir que crianças estamos preparando para o futuro.

E é justamente esta que deveria ser nossa maior preocupação, como estamos educando e cuidando das nossas crianças, para que elas se tornem adultas, minimamente equilibradas e responsáveis pelos seus atos e principalmente pelas consequências deles.

O que sinto é que nossas crianças estão abandonadas, como se não merecessem a devida atenção. Parecem aquela semente que é plantada em terra rasa, que germina de qualquer jeito, sem cuidado algum, e lentamente vai crescendo em meio ao mato, que suga com maior voracidade os nutrientes da terra, provocando o desenvolvimento de uma planta raquítica, sem robustez, mas que é atacada frequentemente pelas formigas cortadeiras e por fim, por nunca receberem as devidas podas, acabam por produzir poucos frutos, sendo que a maioria deles, frutos minguados.

Se as crianças são as sementes, a terra rasa é a família sem valores, sem princípios de dignidade; o mato é a sociedade injusta, que fomenta a população do jeitinho, que é nutrida pela Lei de Gerson; as formigas são as más companhias, os exploradores da alma e do corpo; as podas, são os limites, que parecem não existir entre as crianças, ser disciplinado não faz parte da nossa cultura (terra rasa); e assim, a criança vai germinando e transformando-se em adulto. Os frutos? O tempo dirá se serão minguados ou não.

Agora, não esqueçamos de uma coisa. Toda semente lançada sai das mãos de um ser. E este ser somos todos nós. Que tenhamos a coragem de ser uma terra fértil para as nossas crianças, que tenhamos coragem de fazer as devidas podas; que tenhamos a coragem de deixar um mundo melhor, em que os valores dignifiquem o ser e não o contrário. Não basta simplesmente lançar a semente é preciso acima de tudo cuidar. Assumamos nossa missão.

(*) Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor.

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