Cidades

A tragédia e as eleições em Minas

Fernando Benedito Jr.

A história, segundo Marx, se repete como farsa ou como tragédia. No caso da morte de Eduardo Campos, se repete como tragédia e como uma ironia. Empacado em 8% das intenções de voto, Campos, infelizmente, só decolou depois do acidente aéreo que o vitimou de forma triste, inesperada e lamentável. Mais uma imponderável ironia do destino. Uma ironia que despertou a atenção de milhões de pessoas para um outro projeto político do qual Marina Silva, tornou-se a principal herdeira, a ponto de alterar todo o jogo eleitoral então em curso no País. Conforme pesquisa DataFolha divulgada ontem, Marina já entra na disputa com 21% dos votos, superando Aécio Neves com 20%. A presidenta Dilma Rousseff, candidata à reeleição, tem 36% das intenções de voto.
Esta mudança no cenário eleitoral, em parte provocada pela comoção em torno da morte de Eduardo Campos, tem várias implicações. Uma delas é que Marina, detentora de 20 milhões de votos como candidata a presidenta em 2010, aos quais ela se refere como um “legado”, já arrancaria em melhor posição se fosse ela a candidata. Desde o início ela teria sido melhor escolha para cabeça de chapa, mas preferiu ceder o lugar a Eduardo Campos e evitar divisões internas na junção entre PSB e Rede. Assumindo a liderança, ela também reagrupa os votos do eleitorado descontente – aqueles das manifestações de junho -, agora, com mais vigor. Também torna-se uma alternativa para os eleitores que não votariam em ninguém, seja porque desconheciam Eduardo Campos, seja porque não querem Aécio ou Dilma; reaglutinando os órfãos da esquerda.
Mas ainda é cedo para qualquer avaliação taxativa do quadro eleitoral. Os programas de rádio e TV, tendem a ser um importante instrumento a influir na decisão dos eleitores. Dilma terá muito tempo para convencê-los e para mostrar diversas obras e ações de seu governo que ainda não chegaram ao conhecimento do eleitorado. Aécio também terá um bom tempo para desancar o governo – como já vem fazendo –, e tentar manter a polarização com Dilma.
Mas o fato é que, enquanto isso, em Minas Gerais, por exemplo, a tragédia também tem fortes repercussões eleitorais. O candidato Pimenta da Veiga deve muito do seu crescimento ao crescimento de Aécio Neves. Uma eventual queda de Aécio em nível nacional e, e tabela, em Minas, compromete o projeto tucano no Estado e facilita a vida de Fernando Pimentel (PT). Invertendo a pirâmide, a morte de Eduardo Campos, de certa forma, contribui para que as forças regionais de oposição ao PT fiquem em situação menos confortável, exigindo uma nova postura face aos projetos de 2016, uma vez que a vitória de Pimentel ao governo de Minas tende a fortalecer os governos municipais do arco de alianças petista. Mesmo com uma ligeira vantagem, Pimentel estava correndo risco, um risco que diminui com a morte de Eduardo Campos.
É hora de prantear, mas também de pensar, porque senão esta tragédia estará a necessitar de muito mais carpideiras do que se imagina.

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