Nacionais

A prisão de Lula e seus direitos

(*) Fernando Benedito Jr.

 

Por si só, a prisão de Lula é uma das maiores injustiças que este País já presenciou. Para além das convicções, não existem provas que justifiquem sua prisão, seu julgamento às pressas, sua condução coercitiva, sua retirada do pleito de 2018, o cerceamento de seus direitos como custodiado da Justiça. São chicanas judiciais uma atrás da outra para mantê-lo encarcerado. Mas essa última, de impedi-lo de ir ao velório do irmão, foi das mais sem-vergonha, desumanas e cruéis. Melhor que Dias Tofolli lhe negasse o direito como fizeram seus subalternos, do que permiti-lo minutos antes do sepultamento de Vavá. Afinal, não se pode dizer que proibiram Lula de ver o irmão. A Lei de Execução Penal é clara quanto a este direito do preso. Mas não serve para Lula. Devem ter muita raiva dele. Quem mandou ficar defendendo pobres e assalariados e contrariar os interesses do grande capital.

Interessante é que o sistema que o penaliza em grande parte foi construído por ele, a começar pela indicação de Dias Tofolli ao Supremo. Também construiu a prisão onde hoje está encarcerado e que foi inaugurada pelo finado ministro da Justiça de seu governo, Márcio Thomaz Bastos. Também foi Lula quem assinou medidas que deu ao Ministério Publico os poderes que tem hoje que, embora, outorgados pela Constituição, não eram levados a termo como, aliás, grande parte dos direitos contidos na Carta Magna. É o caso de prisão somente após o julgamento em última instância. Outra contradição: uma das pessoas que mais lutou pelos direitos humanos no Brasil é a que tem os seus direitos humanos mais vilipendiados, ultrajados e tripudiados. Se não for ironia, é maldade em estado puro.

Depois de anos de investigação, julgamento e quase um ano de prisão ainda não veio à tona quantos milhões Lula roubou, onde estão escondidos, qual a movimentação atípica foi constatada pelo Coaf, em qual Paraíso fiscal foi parar a evasão de divisas. Também não mostraram as centenas de fazendas de criação de Nelore, participação em empresas ou impérios patrimoniais construídos com as “propinas” que arrecadou ao longo de dois anos de mandato como presidente da República. Tudo se resume ao triplex do Guarujá, leiloado pela Justiça em nome de uma incorporadora imobiliária e do sítio de Atibaia, que está em nome de Jacó Bittar, amigo de Lula desde a fundação do PT.

Por outro lado, seus algozes, aqueles que se locupletam às custas do poder público, que praticam ilícitos a olhos vistos, que foram flagrados e gravados em conchavos palacianos extorquindo empresas, estão aí, curtindo a vida, entre Nova York, praias paradisíacas, vivendo em seus belos apartamentos triplex ou quatriplex no Soho, em Milão, Paris, Rio de Janeiro e São Paulo.

Sem dúvida, o tratamento dado a Lula é bem diferente. Bem ao gosto daqueles senhores e senhoras da classe média que bradam, raivosos: “Que apodreça na cadeia!”

Estes, deveriam se permitir fazer uma avaliação da realidade brasileira, antes e depois de Lula, sem repetir os mesmos mantras, mas observando a fundo as diferenças conceituais do que é e do que deve ser um Brasil mais justo, solidário, fraterno, humano.

Certamente não é este que estamos vivendo.

 

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do “Diário Popular”

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