Nacionais

A posse e o terrorismo

(*) Fernando Benedito Jr.

 

O “terrorismo” brasileiro já teve dias mais interessantes. Em seu auge foi praticado pelo Estado, seja nos atentados à bomba contra a sede do OAB, bancas de jornais ou no 1º de Maio no Riocentro, como forma de justificar a radicalização do regime militar. Ou na forma da guerrilha urbana e rural promovida pelos movimentos de esquerda contra o mesmo regime, que eram ações legítimas de combate ao totalitarismo. Contra a censura, a tortura e o assassinato nos porões do DOI-CODI, não havia muito o que fazer senão se armar e lutar.

Eis que agora, nesse novo momento que o País atravessa, cria-se uma certa paranóia contra o terrorismo, certamente amparada pelo atentado a faca contra o “mito”. Debalde todos os esforços da Polícia Federal para classificar a ação como um ato terrorista, não passou de um fato isolado de um sujeito problemático, que acabou fortalecendo a candidatura de Bolsonaro, outro sujeito problemático, e lhe dando a vitória depois de uma certa comoção nacional e de tornar-se um grande fato midiático que o então candidato jamais teria, não fosse o ocorrido.

Não está claro se é daí que vem toda a paranóia e teorias da conspiração para justificar o maior esquema de segurança já montado na posse de um presidente da República – o que inclui abate de aviões e outros estratagemas usados em tempos de guerra; ou se isso tudo é mesmo coisa da cabeça dos generais que cercam o capitão.

Um verdadeiro espetáculo midiático armado para espantar terroristas. Aí, a Polícia Federal anuncia que está investigando um grupo terrorista autodenominado “Maldição Ancestral”, que teria colocado uma bomba ao lado da igreja Santuário Menino Jesus, em Brazlândia, região administrativa do Distrito Federal, conforme informações do UOL. Fala sério! Já teve um tempo que terroristas de verdade mesmo se chamavam Badder-Meinhoff, Brigadas Vermelhas, IRA, ETA, MR-8. Tinham nomes mais sérios, que incluíam palavras como “proletário”, “vanguarda”, “exército”, “povo”.

Pô, desde quando um grupo terrorista se chama “Maldição Ancestral”? Isso é título de filme B de terror, tipo “O Massacre da Serra Elétrica”, “Maldição da Floresta”, “Pânico no Lago”. E o tal grupo “Maldição Ancestral”, foi colocar a maldita bomba na Igreja do Menino Jesus. Nada a ver. Coisa de terrorista brasileiro e de Polícia Federal brasileira, que deveria estar fazendo a condução coercitiva do Queiroz, a mando de Sérgio Moro, que manda na PF e no COAF. É vergonhoso a Polícia Federal anunciar que está combatendo uma coisa dessas, mas em se tratando da breguice do novo governo, nada é impossível. Inclua-se aí a camiseta de Michelle Bolsonaro.

O abate de aeronaves também está autorizado no dia da posse. O espaço aéreo de Brasília está restrito aos foguetes de comemoração dos bolsonaristas, mas mesmo assim, de bem longe. Com a presença do premier israelense Benjamin Netanyahu, é bem provável mesmo que algum palestino, o pessoal do Estado Islâmico, da Fatah, OLP, enfim, esses grupos árabes radicais, se aventurem em território brasileiro para uma retaliação contra Bolsonaro, tal a importância e relevância do “mito” no contexto geo-político do Oriente Médio na atualidade.

Enquanto isso, o novo governo anuncia que vai lançar mão do plano de segurança de Temer, porque não tem um plano de segurança, embora, segurança tenha sido o principal tema da campanha de Bolsonaro, motivo de seus discursos estapafúrdios e sem nexo, e daquele gesto de arminha que ele fazia e não faz mais. Mas, o grande Moro está lá e é isso que importa.

No mais, mais que venha a posse e comecem logo a executar a grande obra que os brasileiros esperam ansiosamente.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.

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