Cultura

“A motivação para voltar à TV é estar viva”, afirma Fernanda Montenegro

(Crédito: TV Globo/Renato Rocha Miranda)

Grande dama do teatro, ícone da TV e do cinema. Estes adjetivos podem até acompanhar o nome de Fernanda Montenegro, mas não são suficientes para defini-la. Prestes a completar 85 anos, 65 destes de carreira artística, a atriz é também uma operária da arte. De volta às novelas – o último papel foi em Passione (2010) – ela encara com coragem, amor e humildade o desafio de encarnar dona Candinha, matriarca dos Rosado e um dos alicerces do ódio entre famílias rivais em Saramandaia, nova novela das onze. “A motivação para voltar para um set de gravação é estar viva. É fazer a minha vocação, é estar disposta e ainda ter fôlego. Imagina não fazer mais o que faço? Para mim, seria uma doença.”

MERGULHO
É com este ânimo que Fernanda mergulha completamente em dona Candinha. Logo que chega ao estúdio, já trata de se caracterizar e incorporar sua personagem. E foi assim, imersa no universo fantástico de Saramandaia, que ela conversou com a equipe do site da novela. A conversa, por vezes, era interrompida para atriz trocar ideias com equipe de produção, se encantar com a beleza da jovem colega de elenco Laura Neiva – que na trama interpreta sua bisneta Stela – ou dar sua opinião sobre os cenários onde atua. São nestes papos informais de corredor que Fernanda presenteia todos com a força da sua presença. “Com 65 anos nesta vida, você bate o olho e sabe onde vai parar. Já está longe a principiante que houve em mim. Hoje em dia eu estou representando, avaliando e, de uma certa forma, já dirigindo. Claro, sempre aceitando também a opinião do diretor. Mas não sou mais zero km”, afirma.

ESTREIA ADIADA
Fernanda é assim, vive a mil por hora. Só que nem sempre o tempo consegue acompanhar o seu pensamento. Em função disso, os planos para a estreia como diretora teatral tiveram que ser adiados: “Infelizmente, a peça ficou para o ano que vem. Justamente por causa de tanto trabalho não deu para encaixar. Às vezes, no pensamento, a gente pode fazer tudo, mas na hora da ação, o tempo tem o seu próprio tempo.”

Se o tempo não alcança Fernanda Montenegro, a atriz exerce a paciência e aproveita para se deliciar com Candinha, uma senhora que se diverte com suas galinhas imaginárias e que vive dividida pela tênue linha que separa o amor do ódio. “A dona Candinha tem um bom humor que me ajuda a fazer a personagem. Para ela, a família é o esteio e as amarras. Por outro lado, ela tem um grande amor não realizado e, em função disso, continuou com a sua visão assassina. Se ela realizasse este amor, certamente não estaria mandando matar. Mas como a vida não lhe deu isso, por causa de tantos assassinatos, ela continuou esta saga”, explica a atriz.

PERSONAGEM
Como em qualquer outro papel de sua carreira, Fernanda conta que a concepção de Candinha começou com a intuição: “Você lê o texto e cria uma coisa no seu imaginário. Depois, é preciso ir em busca disso.” Peruca, xales, lenços, brincos, anéis são as ferramentas usadas para mergulhar nesta composição. “Tem uma hora que você tem que vestir esta imaginação. Entre tantas coisas que você tem a fazer, uma delas é vestir isso. Isso faz parte da feitura dela. O figurino da Candinha é vibrante e louco, parece que é demais, mas de repente minha imaginação absorve isso e me ajuda a me expor como atriz. Acaba sendo harmonioso dentro da sua diversidade”, diz.

GALINHAS
O lado lúdico e divertido da personagem, criada pelo autor Ricardo Linhares especialmente para Fernanda, ganha a ajuda de algumas colegas especiais que entram em cena. Nas sequências em que dona Candinha conversa com suas galinhas imaginárias, são usadas cerca de 30 aves reais. Para Fernanda, que já contracenou com um cachorro no cinema, não é uma grande novidade, nem muito trabalhoso: “No filme que fiz, o cachorro não me obedecia nunca. A moça que o treinava tinha que estar sempre junto. As galinhas ficam na delas, são completamente malucas, mas como as cenas com elas são malucas, acaba que dá certo. O cachorro, com certeza, foi muito mais difícil e me deu muito mais trabalho que as galinhas”, diverte-se a atriz.

SUBURBANA
Quem acompanha as gravações sabe que isso é verdade. Fernanda não se intimida com suas colegas e atua normalmente ao lado delas. Talvez porque tragam à tona uma memória afetiva da atriz, que faz uma verdadeira viagem à infância para entrar no clima da cidade fictícia de Bole-Bole: “Eu nasci no subúrbio do Rio, em uma época em que o subúrbio era rural. Vivi em casa grande, com horta e com animais. Depois a vida vai puxando a gente, fui indo por caminhos que nunca pensei seguir. Mas fica em mim o negócio dos animais, da verdura que a gente pega no fundo do quintal, da fruta que a gente pega no pé. E isso eu trago para a Candinha.”
Saramandaia, de autoria de Ricardo Linhares, é livremente inspirada na obra original de Dias Gomes, com direção de núcleo de Denise Saraceni e direção geral de Denise Saraceni e de Fabrício Mamberti.

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