Cidades

A história da cidade contada por seu pioneiro

José Avelino foi um dos sócios fundadores do Rotary Club Coronel Fabriciano e Timóteo; por seus muitos serviços prestados ao clube, recebeu várias homenagens      (Foto: Nadieli Sathler)

FABRICIANO – A história do pioneiro José Avelino tem muito a ver com o surgimento do município de Coronel Fabriciano. Ele veio com a família para Coronel Fabriciano na década de 20, com apenas quatro anos de idade. Hoje, está prestes a completar 92 anos, em março.

O pai dele, Rotildino Avelino, foi o primeiro alfaiate a se instalar na região central do distrito de Callado (ele ressaltou que o nome do local se grafava, inicialmente, com dois “L”), que depois recebeu o nome de Coronel Fabriciano. O menino estudou entre 1932 a 1934 no Grupo Escolar Coronel Fabricano Felisberto de Brito, a primeira unidade escolar aberta na região, que funcionava em Antônio Dias.

Sua examinadora, à época, foi Sayd Riscala Albeny. Ela era conhecida por ser uma professora exigente, que nunca tinha dado uma nota máxima para os seus alunos. “Fui o único aluno a ser examinado pela Sayd que ganhou uma nota 10 com louvor em sua avaliação”, relembrou o aposentado, sem esconder sua satisfação. No centenário da escola Coronel Fabriciano, situada até hoje no município de Antônio Dias, José Avelino foi homenageado.

Já entre 1936 e 37, José Avelino foi estudar no Seminário da Nossa Senhora da Penha, em Vitória, Espírito Santo. Depois que deixou o educandário religioso, seguiu para Itabira, onde ficou de 1938 a 1942 cursando o ginásio.
Logo após concluir os estudos, regressou a Coronel Fabriciano e iniciou a sociedade com o seu pai Rotildino, na Casa Avelino. Ao falar dos primeiros anos de seu comércio, José Avelino destacou que não possuía uma mercearia, mas comércio de secos e molhados. No estabelecimento, se vendia de tudo, desde um parafuso, eletrodomésticos e demais produtos perecíveis.

MOTOCICLETA
A primeira moto que circulou pelas ruas de Coronel Fabriciano foi comprada pelo comerciante, em 1943. Tratava-se de uma DKW, à base de gasolina. José Avelino lembrou que pouco depois da moto ser entregue, foi convocado pelo delegado de Polícia para explicar como iria abastecer o veículo, tendo em vista a pouca disponibilidade de combustível.

Por muitos anos, ele foi o representante exclusivo da marca Philips na região. Seu comércio vendia aparelhos de rádio, televisão, geladeira, bicicletas e muitos outros produtos, que inclusive ele guarda em sua residência. O pequeno acervo também é composto por uma TV preto e branco e outra colorida, também da marca Philips, adquiridas para atender sua família.


A primeira moto que circulou em Coronel Fabriciano foi comprada por José Avelino, em 1943, da marca DKW

VIAGENS
José Avelino se casou em 1946 com Elzina de Araújo, com quem teve oito filhos. Com a esposa, o comerciante fez muitas de suas viagens.
Entre 1958, o comerciante e a esposa Elzina decidiram viajar no Centenário de Lourdes para Bruxelas, na Europa, e visitar uma exposição internacional em homenagem à santa católica.

O aposentado guarda pelas paredes de sua casa fotos, desenhos e afrescos de suas viagens internacionais. Ele contou que quando esteve na Bélgica, pegou um Trem Bala para a Holanda.
“Recordo que estive no escritório da fábrica em Belo Horizonte e depois no Rio de Janeiro para pegar cartas de recomendação para minha viagem. Ao chegar à Estação, tive que levantar uma bandeira do Brasil para ser identificado pelo funcionário da Philips. Se não fosse isso, como identificariam um mineiro de Coronel Fabriciano em plena Europa?”, brincou.

ROTARY
José Avelino também foi sócio fundador do primeiro Club de Rotary existente na cidade, no ano de 1949. O Rotary Club Coronel Fabriciano Timóteo foi o responsável pela construção de três salas de aula que, depois de ampliadas, receberam o nome de Escola Estadual Rotildino Avelino, seu pai, no bairro Santa Cruz.
“Na época em que o Maurício Anacleto era presidente, mandou construir a escola municipal. O Rotary assumiu essa missão. Paguei do meu bolso a construção de uma das salas para que funcionassem as turmas de Mobral nos turnos da manhã, tarde e noite”, relembrou.
Após fechar seu comércio em 1965, optou por se dedicar ao ramo de hotelaria, abrindo o Hotel Avelino, que funcionava na rua Dr. Querubino, 118, também no Centro.


O comerciante tem em sua residência um cômodo destinado a guardar seu acervo pessoal de rádios e
televisões de pequeno porte, comercializados em seu estabelecimento

Pioneirismo também para a comunicação
Fabriciano
– Logo que abriu seu comércio, a Casa Avelino, o comerciante comprou o primeiro sistema de radiodifusão a funcionar através de alto falantes na região central da cidade. O serviço recebeu o nome de JAB3. O aparelho VOX Mobil possui integrado um aparelho de amplificador e toca-discos de alta rotação com capacidade para armazenar e tocar até 10 bolachas.
Além do alto-falante principal que ficava na fachada da loja, havia outros cinco pontos.

Entre eles, na rua Quintiliano Pereira, hoje denominada de Silvino Pereira, esquina com a rua Carlos D’Ávila, e na avenida Pedro Nolasco, em frente à estação ferroviária que havia na época. “Não colocamos na porta da escola porque não podia ter barulho. Procurava sintonizar a transmissão de jogos e demais rádios de todo o país para que a cidade pudesse ouvir o que se passava fora daqui também. Mas o principal objetivo era divulgar a loja e os demais comerciantes da época”, citou.

O serviço foi concedido a José Avelino em 7 de março de 1949, por Leo Pompeu Campos, responsável pelo Divisão de Imprensa, Mídia e Diversões do Departamento Estadual de Informação. A concessão datilografada e assinada ainda é guardada ao lado do aparelho que fica na sala de antiguidades da residência de José Avelino.

O comerciante também adquiriu a primeira máquina polaróide da região. “Comprei na Suíça a máquina e mandava revelar as imagens para passar no projetor. Tive também o primeiro gravador da cidade que captava o áudio e gravava naquelas fitas grandes”, contou.

Entre os muitos produtos diferenciados que estão guardados em seu acervo pessoal, José Avelino mostrou um binóculo de longo alcance que comprou em suas viagens internacionais. Em seu acervo, ele também guarda a primeira caixa registradora que comprou para seu estabelecimento Casa Avelino: o objeto tem mais de 70 anos.


Rotildino Avelino foi um dos primeiros vereadores do distrito de
Callado na Câmara de Antônio Dias

De alfaiate a comerciante no distrito de Calado
Fabriciano
– Rotildino Avelino, mais conhecido como ‘Tidino’, nasceu na cidade de Antônio Dias, em 25 de outubro de 1889. Era filho de Antônio Avelino dos Passos e Joana Evangelista Figueredo, pioneiros no município de Antônio Dias. Após passar muitos anos no ramo da educação, os pais de Tidinho acabaram se mudando quando o pai foi designado escrivão de paz na antiga Caratinga de Joanésia, hoje Mesquita.

A primeira profissão de Tidinho foi a de alfaiate, ofício que aprendeu do tio Ernesto Avelino, em 1912. Porém, anos mais tarde, não querendo exercer mais a profissão, mudou-se em 1916 para Taquaraçu, hoje Santana do Paraíso, local em que abriu um comércio de varejo e começou a se dedicar ao ofício de mascate.
Tidino se casou com Maria José de Jesus em 24 de maio de 1917. Nessa época, o comerciante mudou-se novamente para Braúnas para de dedicar-se à compra de algodão e criação de porcos em alta escala para revender na região de Mesquita.

A primeira filha do casal viveu apenas alguns meses e veio a falecer. Em 1921, nasceu José Avelino Barbosa. Já nesse tempo Tidino voltou a trabalhar como alfaiate em Taquaraçu. Após o nascimento do filho, a esposa Maria José ficou doente. Ela contraiu a febre palustre, doença atualmente conhecida como malária.
Com a perda, Tidinho se mudou novamente com o filho para Inhapim, local em que permaneceu por pouco mais de um ano.

No início de 1923, a família se mudou para o distrito de Callado, hoje Fabriciano. Como tinha decido tentar a sorte em outras cidades, Tidinho deixou o filho José Avelino na casa de parentes. “Meu pai foi o primeiro morador da cidade. Naquela época os ambulantes que compravam e revendiam eram chamados de mascates. A nossa primeira casa era de pau a pique e para vedar a claridade e o vento usávamos papelão nas frestas entre as madeiras”, contou.
Antes de fixar residência definitivamente, o alfaiate decidiu se casar novamente. Em julho de 1925 Tidino se casou com Maria Gonçalves de Brito, que era natural de Imatita.

“Tidino foi o primeiro representante do antigo Callado junto a Câmara Municipal de Antônio Dias, pugnando sempre para o bem estar do distrito. Ele deixou o marco de seus esforços pelo cidadão fabricianense, terra que ele amou. Foi ele que escolheu o padroeiro e doou a primeira imagem de São Sebastião, ajudando na construção da antiga Capelinha e do primeiro cemitério”, lembrou. “Rotildino foi um dos desbravadores desta terra, que ajudou a criar, crescer, desenvolver, emancipar e agigantar-se”, afirmou José Avelino.

Emancipação
Tidino também foi um dos militantes pela emancipação política de Coronel Fabriciano. “Após a emancipação, meu pai parou com as atividades políticas e vendeu a fazenda do Caladinho em 1950 para se dedicar mais à família e aos netos. E se mudou, em 1956, para Belo Horizonte”, disse.
Depois de morar por vários anos na capital mineira e receber muitos netos para estudar, Tidino faleceu em 16 de dezembro de 1965, de uma doença cardíaca. Ele morreu em Coronel Fabriciano.


José Avelino, em sociedade com o pai (foto), montou a Casa Avelino, que
funcionava embaixo da residência da família

Você também pode gostar

PHP Code Snippets Powered By : XYZScripts.com