Opinião

A crise do dia

Nem bem terminou a celeuma sobre o “insulto” do presidente ao deputado bombadão, reaça de academia, e já iniciam outra sobre a fala do ministro do STF, Roberto Barroso

(*) Fernando Benedito Jr.

À medida em que vão se aproximando as eleições presidenciais aumentam as “crises” diárias provocadas pelo bolsonarismo. Esses embates com o Supremo Tribunal Federal (STF), já não chamam mais a atenção e, desde o acampamento dos 300 do Brasil, aqueles bravos guerreiros armamentistas liderados pela implacável Sara Winter; e antes ainda quando Bolsonaro fazia apologias ao golpe e contra as instituições em frente aos quartéis; e antes ainda quando Eduardo Bolsonaro ameaçava fechar o Supremo com um cabo e um soldado num jipe – parece uma cena de quadrinho do Recruta Zero, bem capturada pelo chargista Amarildo –, que as ameaças e falácias se repetem em forma de crises.

“Ah, mas é preciso estar atento e forte”, diz a esquerda. “Estamos vigilantes”, repetem os generais de plantão no governo. E tome retórica para a “Folha de S. Paulo” analisar com ares professorais e assertivos de que o que pensam de fato vai acontecer. Quase me enganaram com a “derrota” de Macron.

Uma fala idiota de Bolsonaro – desculpem o pleonasmo –, um “resvalo” de um ministro do Supremo, uma fala impensada de Lula sobre um “tema-tabu”, de repente se tornam crises quase incontornáveis como se no dia seguinte não tivéssemos outra controvérsia qualquer para chamar de crise. Como é o caso de agora. Nem bem terminou a celeuma sobre o “insulto” do presidente ao deputado bombadão, reaça de academia, e já iniciam outro sobre a fala do ministro do STF, Roberto Barroso, como se ele tivesse falado algo que ninguém soubesse: que Bolsonaro insufla o Exército contra as instituições democráticas.

Na verdade, Barroso nem precisava falar, de tão óbvio. Mas já que falou apenas constatou o que todo o mundo já sabe: as forças armadas, forças de segurança, polícias estaduais, guardas municipais, agentes penitenciários e vigias de escolas, diariamente são insuflados contra a democracia e as instituições republicanas, a defender o totalitarismo, a acobertar a tortura, a defender o armamentismo e outras pautas reacionárias da extrema direita nacional. É uma questão programática e tática: para se manter no poder, precisam atacar e ameaçar destruir as instituições que sustentam a democracia, embora a suguem até a exaustão.

Quanto a fazer “crises” é outra tática. Chama-se diversionismo e tem o objetivo de desviar a atenção e o focos daquilo que realmente interessa. É para isso que servem as “lives” de quinta-feira, o cercadinho, as motociatas…

Num País com povo de memória curta, essa direita insana consegue fácil seu intento e se aproveita disso.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP.

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